“Kick-Ass 2″ é um drama de amadurecimento, disfarçado de filme de super-herói

Se o barato de “Kick-Ass” partiu da ideia de que um adolescente, com um bocado de tempo de sobra e inspirado por muitas histórias em quadrinhos, resolve ser um super-herói, criando uma espécie de versão pop-juvenil de “Watchmen”, sua continuação mostra o desdobramento lógico: a criação do primeiro super-vilão, bem como os primeiros super-grupos. Se isso não é dar um passo além, ao menos evita a armadilha de se repetir, mal de muitas e muitas continuações por aí.

Aaron Taylor-Johnson e Chloe Grace Moretz retornam aos seus papéis como Kick-Ass e Hit-Girl. Ele começa a lidar com o fato de que talvez precise treinar um pouco antes de sair nas ruas enfrentando bandidos e que pode ser uma boa ideia fazer isso em equipe. Ela enfrenta, ao mesmo tempo, coisas um pouco mais assustadoras que criminosos: a puberdade e o ensino médio. Paralelamente, Red Mist, interpretado novamente por Christopher Mintz-Plasse, – que se torna um Édipo às avessas – resolve se tornar o super-vilão já citado, adotando um hilário visual sado-maso e a alcunha de Motherfucker (e como esse é um site de família, meio que não rola de traduzir).

A diversão se divide nessas frentes: A versão pessoal de “Meninas Malvadas” a que Hit-Girl é obrigada à passar, especialmente porque ela é treinada para matar, o que quer dizer que as coisas não sairão tão baratas assim; A coisa do super-grupo, com seus personagens tão hilários quanto bizarros; E a escalada de poder de Motherfucker, que, diante de sua inabilidade em luta corpo à corpo, começa a contratar capangas. E vesti-los de acordo.

Tudo isso temperado com toda a violência gráfica que se espera de um trabalho baseado em um quadrinho de Mark Millar. Assim como foi o primeiro, há inúmeras cenas com cortes, tiros e mutilações, que em nada são aliviadas pelo fato de serem protagonizadas por uma simpática garotinha de 15 anos. O que ajuda, ao contrário, é que ela o faz com tanto humor que as cenas pendem mais para “Kill Bill” do que para “Oldboy”.

Mas ela não é a única que merece elogios do elenco. Se, por um lado, a surpresa fica com Jim Carrey como uma espécie de Capitão América do mundo bizarro, por outro, quem rouba as cenas (discretamente) é Taylor-Johnson. Mesmo em um filme claramente construído para dar destaque para Chloe. E é impressionante pensar que esse mesmo ator estrelou “Anna Karenina” e “Selvagens” no ano passado e, mesmo estando bastante musculoso, consegue passar perfeitamente por um estudante do segundo grau. Ele é nada menos do que oito mais mais velhos do que sua companheira de cena.

O resultado dessa farsa – no sentido teatral do termo – é um drama de amadurecimento, disfarçado de paródia séria de filme de super-herói. E a coisa funciona quase tão bem quanto no primeiro, ainda que a mão de Matthew Vaughn faça falta aqui e ali. Isso ainda leva para um ótimo clímax de luta de gangues que acaba lembrando mais as cenas finais dos filmes de Bud Spencer e Terrence Hill. Só que com muito mais sangue gerado por computador.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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