Leveza de “Meu Passado Me Condena” usa Porchat como âncora

Se formos montar uma escala para as comédias nacionais, colocando como a potencialmente pior “Vai que Dá Certo” – paródia que não agradou nem público nem crítica -, em um extremo, e, no outro, “Saneamento Básico – O Filme” – sucesso de crítica, e entre o pouco público que assistiu -, “Meu Passado Me Condena” pende mais para o segundo. O que não quer dizer que seja um grande clássico do cinema nacional, nem nada. Mas é simpático que só vendo.

O filme é um derivado da série de mesmo nome que teve, até agora, uma temporada no canal pago Multishow. Se a série acompanha esse casal maluco, vividos por Fábio Porchat e Miá Mello, que resolveu juntar as escovas de dentes com um mês de namoro, o filme não foge disso. E aposta em um recorte específico: a lua de mel. Mas o roteiro de Tati Bernardi não se contenta em explorar apenas as diferenças entre os personagens – ele um crianção pão duro, ela uma consumista com tendência ao mau-humor crônico -, ainda que este seja o mote narrativo. Outros personagens aparecem para gerar conflito.

O que neste caso acontece em três frentes. A primeira é a presença do ex-namorado dela, que está casado com a ex-paixonite juvenil dele, vividos por Alejandro Claveaux e Juliana Didone. Especialmente por eles fazerem o tipo casal de comercial, ricos, bonitos e perfeitos (até demais). A segunda é o casal de trabalhadores do navio, Marcelo Valle e Inez Viana, que, por conta do amargor do fracasso de sua própria relação, faz questão de afundar a alheia. É um mote fraco, mas acaba sendo necessário para fazer o roteiro andar. E, por fim, o melhor amigo de Fábio (os nomes dos atores centrais são repetidos nos personagens), vivido por Rafael Queiroga, que desperta nele tudo o que Miá mais odeia.

É na interação desses elementos que as piadas surgem e a narrativa anda, usando o expediente típico dos mal entendidos e encontros e desencontros. Assim os casais vão brigar e se reconciliar o tempo todo. A impressão, porém, é que isso não passa de uma plataforma para vermos Porchat disparar, freneticamente, falas e mais falas, englobando tudo e todos que estão em cena com ele. Ainda que isso faça sentido, dada a natureza do seu personagem, se isso é ruim ou bom, depende mais de como o expectador encara esse tipo de humor.

Porchat não está em um momento de meio termos. Sua superexposição, entre dezenas de propagandas, participações em tv e seu sucesso no canal do YouTube do “Porta dos Fundos”, faz com que muita gente o adore e, talvez, tantos quanto não o suportem mais. Daí que um filme que é tão calcado em seu jeitão hiperbólico – que, ainda que tenha vindo do teatro, até que se adapta relativamente bem no cinema -, pode não ser bem digerido pelo pessoal do segundo time.

No fim, o que sobra é uma sessão agradável em que não se sai nem particularmente ofendido, mas também não há um momento que seja notadamente inspirado. A coisa é que, considerando a média das comédias nacionais, cujos roteiristas não conseguem superar o humor fácil de bordões e situações-clichê, “Meu Passado Me Condena” ainda se sobressai com alguma graça.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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