“O Franco-Atirador”

Se decompormos sucessos recentes do cinema de ação como a trilogia “Bourne”, “Busca Implacável” ou mesmo a era de Daniel Craig como James Bond em sua unidade essencial, teremos um homem usando suas habilidades para primeiro sobreviver e depois ir atrás de quem o estava caçando. Em geral com ambientação europeia. O fato da estrutura começar a se tornar um tanto formulaica não quer dizer, porém, que tenha ficado maçante ou que tenha perdido sua força. “O Franco-Atirador” é prova disso.

No filme acompanhamos Sean Penn como Jim Terrier, o homem que está sendo caçado em questão. Logo fica claro que querem sua cabeça por algo relacionado a um trabalho que aconteceu no Congo alguns anos antes. Sua busca por respostas o coloca em contato com as pessoas de seu passado, incluindo aí Annie, vivida por Jasmine Trinca, seu grande amor. A carga dramática aumenta um pouco com o fato de sua cabeça ser praticamente uma bomba-relógio depois de um estilhaço de granada lhe atingir. A recomendação médica é para evitar situações de estresse, algo impossível nesse tipo de história.

“O Franco-Atirador” não possui a qualidade do roteiro dos “Bourne”, nem a surpresa de ver Liam Neeson como herói de ação, ou mesmo a aura de um 007. Mas se sai bem por ter Sean Penn encabeçando a trama. E isso faz toda a diferença por que ele é o tipo de ator que faz um mergulho visceral em seus personagens. E mesmo que com Jim Terrier ele se limite a molhar as canelas, se me permitem a insistência na metáfora, ainda é o suficiente para nos transportar para aquele universo.

O filme está em suas costas, mas ele não está sozinho. Javier Bardem faz uma versão mais inofensiva do seu de Silva de “007 – Operação Skyfall”, como um empresário que “cuida” de Annie para Jim enquanto este precisa se esconder. Como sempre, ele é o ator que mais parece estar se divertindo nas filmagens, ao lado de Ray Winstone, em bom momento também, na figura do veterano que dá uma força para o personagem central. Outro belo contrapeso para Penn é Idris Elba, infelizmente desperdiçado aparecendo mais no final, na figura de um agente da Interpol.

A comparação com “Busca Implacável” é mais do que temática. Pierre Morel é diretor tanto do neo-clássico de Neeson quanto de “O Franco-Atirador”. E executa os dois com a mesma competência, apenas trocando as vielas escuras do primeiro por ambientes mais iluminados neste trabalho. Pode parecer pouco, mas ajuda a valorizar o empenho de Penn e da equipe de coerógrafos e dublês nas cenas de luta, que surgem assim mais verossímeis e empolgantes.

Assim como em “Busca Implacável”, Morel faz um ensaio de comentário político-social. Sai de cena o tráfico sexual de mulheres na Europa e entra em cena o intervencionismo, não raro violento, das grandes empresas em países mais frágeis. O Congo, no caso, que estaria prestes a se consolidar como uma democracia, não fossem os interesses econômicos darem preferência para a instabilidade e para o conflito.

Isso nunca chega a ser usado além de pano de fundo, de cenário para ajudar a aumentar o realismo do filme. A estratégia é tão clara nesse sentido que “O Franco-Atirador” abre e fecha com a imagem de um âncora de telejornal, ícone máximo da realidade no universo fantasioso do cinema. Mas esse tom meio sério, de filme-denúncia sobre questões sérias envolvendo países pobres, logo se desfaz, dando lugar para o que queremos ver de fato: tiroteio e pancadaria. E nesse quesito, a nota é máxima.

Publicada originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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