“Os Vingadores” é o sonho de todo nerd tomando forma

“Os Vingadores” é o sonho de todo nerd tomando forma

Finalmente chegou o momento esperado por uma legião de fãs de quadrinhos mundo afora. Um filme dedicado não apenas a um supergrupo de heróis, mas a um dos dois supergrupos mais importantes das HQs: Os Vingadores. O plano durou mais de cinco anos, com o pontapé inicial dado na cena pós-créditos do primeiro “Homem de Ferro”, quando Nick Fury (Samuel L. Jackson) convida Tony Stark (Robert Downey Jr.) para participar de sua ‘Iniciativa Vingadores’.

De lá para cá, cinco filmes, cada um estabelecendo um novo personagem, uma nova dinâmica, ainda que inserida em um contexto maior, com Nick Fury e a S.H.I.E.L.D. servindo de ponto de ligação entre eles, foram produzidos com diferentes níveis de sucesso. Assim, além do Homem de Ferro, fomos reapresentados ao Hulk (no filme solo, Edward Norton, aqui, Mark Ruffalo), além de conhecermos o Thor (Chris Hemsworth) e o Capitão América (Chris Evans), com Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva Negra (Scarlett Johansson) trabalhando como coadjuvantes.

Tudo preparando terreno para este grande momento. E a boa notícia é que o filme está à altura das mais altas expectativas. Mesmo!

A história segue um padrão clássico quando a coisa envolve juntar um grupo com egos tão distintos. Eles, primeiro, se enfrentam, já que não se entendem de cara. Depois, aos poucos, conquistam o respeito uns dos outros até encontrarem uma sintonia. O motivo da reunião de gente tão poderosa assim, claro, só pode ser uma ameaça em nível global. O que quer dizer Loki (Tom Hiddleston), irmão do Thor, usando o tesseract, artefato/McGuffin (artifício que faz o roteiro andar) do filme do Capitão, para trazer um exército alienígena. Viu como eles ligam bem os filmes?

A chave do sucesso de “Os Vingadores” está em Joss Whedon, que dirigiu com base no roteiro rascunhado por Zack Penn, que ele mesmo reescreveu todo. Whedon é, talvez, o maior nerd-de-cultura-pop do mundo (ao lado de Kevin Smith, vá lá). Isso, aliado ao tempo que ele passou desenvolvendo o filme da Liga da Justiça (o supergrupo da editora concorrente da Marvel), deram a ele as ferramentas necessárias para o êxito.

Cada personagem tem espaço e importância. Até mesmo o Agente Coulson (Clark Gregg), personagem criado apenas para os filmes, que acaba se tornando uma peça fundamental em um belo momento. Cada ator encontra oportunidades para desenvolver seu personagem e eles vão sendo integrados de forma orgânica à trama, sem ruído e (praticamente) sem forçar a barra. Whedon ainda recheia o filme com pequenas referências aos quadrinhos, além de sempre achar tempo para uma piada, quebrando bem a tensão da narrativa. E a maior surpresa é pensar que nem todas elas vêm de Robert Downey Jr., o que seria a escolha mais óbvia.

Claro, nem tudo são flores e Whedon parece fazer um passe de mágica. Enquanto nos encanta com os diálogos, interações e cenas de ação de tirar o fôlego, estamos anestesiados demais para perceber que a explicação para a vinda de Thor para a Terra é furada, ou que não há motivos para Loki se vingar da Terra (se ainda fosse Asgard), ou mesmo como eles demoram para entender algumas coisas que estão óbvias, considerando que a equipe tem dois gênios. Chega a ser irritante ver Stark falando tantas vezes que Loki precisa de uma fonte de energia sem se dar conta de onde tem uma bem grande. Isso para não mencionar um certo avião que cai, sem danos físicos à tripulação.

Outra questão que pode incomodar os puristas das artes narrativas é em relação aos personagens. Eles não mudam ao longo da fita, especialmente quando comparados aos seus filmes-solo. Stark ficou menos arrogante, Rogers se tornou o herói que sempre quis, Thor aprendeu o valor da humanidade. Mas em “Os Vingadores”, a única lição é aprender a trabalhar em equipe. Não há catarse ou momento transformador, eles entram e saem do filme exatamente do mesmo jeito.

O 3D também é uma perfumaria desnecessária que mira nos ingressos mais caros. Não chega a atrapalhar as grandes cenas de ação, mas também não contribui em nada para que elas se tornem mais incríveis. O filme é bem divertido e empolgante sem a profundidade de campo. Tanto que, até o momento derradeiro, você fica preso na cadeira tentando imaginar como eles vão dar conta de toda a crise que está acontecendo, mesmo sabendo que eles vão dar conta. São os mocinhos, afinal.

Por fim, uma dica. Conhecedores da mitologia dos Vingadores, não se levantem antes dos créditos finais. Há uma boa surpresa te esperando.

Texto publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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