Roteiro confuso tira o brilho de “Um Time Show de Bola”

Depois de ganhar um Oscar pelo irretocável thriller “O Segredo dos Seus Olhos”, o argentino Juan José Campanella mudou completamente de direção em relação ao seu próximo projeto. Partiu para uma animação, em computação gráfica. Este “Um Time Bom de Bola”. Se por um lado fica claro porque ele escolheu esse projeto – a temática futebolística; a liberdade estética -, por outro, é difícil entender como alguém já tão tarimbado não percebe como o roteiro foi mal construído.

A animação narra a história de Amadeo, um rapaz retraído que possui uma habilidade fora do comum na mesa de totó (ou Pebolim). Isso faz com que ele derrote facilmente Colosso, quando eles ainda eram crianças. O problema é que o segundo não engole bem isso e volta, vinte anos depois, como um famoso jogador de futebol, disposto a comprar a cidadezinha em que vivia e ter uma revanche sobre o pobre Amadeo – o que implica em tentar roubar o interesse amoroso dele, a bela Laura.

Diante da ruína de sua cidade e, principalmente, do bar em que trabalhou a vida inteira, lugar onde estava a mesa de totó, um pequeno milagre acontece. O carinho de Amadeo para com os seus jogadores faz com que eles ganhem vida. A começar pelo destemido líder do time listrado, Capi.

É aí que as coisas começam a ficar estranhas. Porque o que se segue imediatamente é uma busca pelos outros jogadores, dos dois times, que também estão sendo procurados por capangas de Colosso – ele quer uma revanche de qualquer jeito. Mal se resolveu esse drama, que toma boa parte do tempo do filme, a história muda completamente para uma disputa improvável de futebol para salvar a cidade. E uma coisa praticamente não influi na outra. O impacto narrativo de bonecos que criaram vida é quase nulo.

O protagonismo se alterna entre o jovem sonhador e o destemido e arrogante capitão, sem que haja definição da história de quem estamos acompanhando. Se isso já não fosse um problema suficiente, já que faz com a trajetória de Amadeo não tenha muito sentido, há a questão da falta de consistência dos personagens secundários. Eles mudam de inclinação e personalidade sem muita justificativa. O resultado é frouxo. Descuidado.

O que não quer dizer que não existam qualidades. Como espetáculo visual o filme é irretocável. Campanella usa o potencial da animação – que implica em não haver limitações físicas para enquadramentos e planos – de forma consciente e competente. A sequência em que Capi é `despertado`, por exemplo, é bonito como pouco se vê por aí, especialmente, mas não apenas, abaixo da linha do Ecuador. As piadas também funcionam na mesma lógica. As que são baseadas em diálogos são absolutamente sem-graça. Por outro lado, as gags visuais chegam até a ser hilárias.

“Um Time Show de Bola” está longe de ser o filme definitivo sobre futebol, mas até que consegue emular parte da paixão que o esporte desperta mundo afora. Sua contribuição maior, porém, é do ponto de vista da tecnologia de animação, outro campo em que os hermanos estão anos-luz à nossa frente, no campo da produção audio-visual.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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