“Ted” acrescenta piadas adultas em enredo batido

“Ted” acrescenta piadas adultas em enredo batido

E eis que Seth MacFarlane chegou aos cinemas, depois de ofender meio mundo com suas séries animadas: “Uma Família da Pesada”, “American Dad” e “The Cleveland Show” (que são basicamente a mesma). E a verdade é que durante a maior parte de “Ted”, estreia de MacFarlane na direção, a sensação geral é de assistir a um episódio bem grande de “Uma Família da Pesada”. Essa sensação é reforçada pela trilha orquestrada, cheia de naipe de metais, pelas piadas com a cultura pop e pelas vozes de MacFarlane e de Mila Kunis (já que ambos são dubladores das séries animadas).A boa notícia é que se “Ted” é um episódio bem grande de “Uma Família da Pesada”, esse episódio é dos melhores escritos por MacFarlane. E, em grande parte, isso quer dizer que se você não gosta das piadas de “Uma Família da Pesada”, talvez, e só talvez, deva fugir desse filme. Ou passar o tempo todo esperando a Mila Kunis. Um dos dois.

No longa conhecemos o jovem John, papel de Mark Wahlberg, que com oito anos de idade fez um pedido e foi atendido, por um desses milagres da vida: seu ursinho de pelúcia, que também era seu melhor amigo (John era um garotinho solitário), ganhou vida. A história, porém, começa mesmo mais de 20 anos depois, contando sobre como um homem de 35 anos ainda vive com seu ursinho falante ao mesmo tempo que precisa lidar com sua namorada, Mila, lhe cobrando maturidade.

Por mais que o filme abra com a narração em off, emulando um clássico infantil da TV aberta, no fundo é uma história sobre amadurecimento. Faria bem pouca diferença trocar ursinho dublado por McFarlane por um amigo de infância mais inconsequente e crianção. No fundo, o bicho de pelúcia está mais ali pelas piadas que por algum artifício mais ou menos brilhante de roteiro.

Mas a forma como as piadas aparecem tornam a brincadeira bastante interessante, já que é ótimo ver um ursinho de pelúcia, com voz de adulto, fazendo piadas adultas. E por piadas adultas, eu quero dizer piadas no nível “Se Beber, Não Case!” ou “Borat” de piadas adultas. Daí surgem os melhores momentos do filme, já que, como disse antes, a estrutura dele é das mais convencionais (mancada – arrependimento – crise – catarse – reconciliação).

Há um acerto muito grande por parte de MacFarlane de centrar a maior parte das referências das piadas e das gags visuais nos anos 80, ainda que Justin Bieber seja mencionado. Isso porque há uma garantia de sobrevida dos recursos cômicos, já que a cultura pop oitentista ainda norteia e paira sobre o imaginário atual. É diferente, por exemplo, de “Todo Mundo em Pânico”, cujas referências do primeiro filme já estão tão distantes que mal fazem sentido hoje em dia.

MacFarlane está acostumado a escrever diálogos entre dois homens. Não são poucas as vezes em que John e Ted soam exatamente como Peter e Brian, de “Uma Família da Pesada”. Daí vem a familiaridade com o tom geral do filme, o que pode incomodar quem não é exatamente fã da linguagem dele. Mas fica claro que MacFarlane, como poucos cineastas, já estreia deixando clara a sua marca registrada.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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