POP entrevista – Breno Silveira, diretor de “Gonzaga – De pai para filho”

POP entrevista – Breno Silveira, diretor de “Gonzaga – De pai para filho”

Se tem uma pessoa no cinema brasileiro que é empolgada com os filmes que faz, esse alguém é Breno Silveira, mais conhecido por aqui com “2 Filhos de Francisco”, em que contou a história da dupla Zezé Di Camargo e Luciano. Agora, em entrevista por telefone ao POP para falar de “Gonzaga, De Pai Para Filho”, ele mostrou o mesmo entusiasmo e orgulho com o trabalho de quando falou sobre seu filme anterior, “À Beira do Caminho”.

Essa empolgação é curiosa, já que Silveira fala dos longas como se não fossem dele. Fala com um certo distanciamento, sem vergonha de se orgulhar: “‘À Beira do Caminho’ é um filme mais interno, mais doloroso, já ‘Gonzaga’ é um filme aberto, grande, que fiz muito mais para o grande público. ‘Gonzaga’ resgata muito do ‘2 Filhos de Francisco’ na coisa de se apaixonar. A trajetória do Gonzagão é muito apaixonante.”

O projeto do filme durou mais de nove anos, e começou com o trabalho de pesquisa de Maria Rachel e Maria Braga em cima da mítica entrevista que Gonzaguinha fez com o pai, Luiz Gonzaga, registrada em horas e horas de gravação em fitas K-7. Este material foi estudado ao longo de sete anos, ao mesmo tempo em que Regina Echeverria usava o mesmo material como base para uma biografia em livro. Com todo esse universo, a dificuldade era decidir qual história mostrar. Especialmente considerando todas essas figuras interessantes, desde Gonzagão e Gonzaguinha, até o mítico Januário, aquele que deve ser respeitado.

“Eu vi que tinha na mão uma história muito importante, esse drama de pai e filho, misturada com a história do próprio Brasil. Só a história do Gonzagão daria muitos filmes. Então a gente decidiu que deveria entender ele a partir do filho.” Essa decisão não foi simples, porém: “Queria contar mais da história do Gonzaguinha, do Januário, mas não caberia nunca num filme de duas horas.”

E aí começa uma das partes mais complicadas de uma biografia: a escalação de elenco. Luiz Gonzaga e Gonzaguinha foram interpretados por três atores diferentes. “Acabei escolhendo o Chambinho do Acordeon para viver Gonzagão a partir dos 30 anos. Ele trazia alguma coisa no sorriso, um jeito matuto e safado, que o Gonzagão tinha, além de ser um exímio sanfoneiro, com uma voz muito parecida com a do personagem. Já o Adélio Lima, que é guia do Museu Luiz Gonzaga, em Caruaru, revelou-se um ator brilhante, uma surpresa maravilhosa para mim”, disse Silveira no release de divulgação, sobre os atores que viveram o protagonista. Enquanto a escolha de Julio Andrade para o papel de Gonzaguinha adulto (que praticamente personifica o personagem), ele disse que “no primeiro dia de testes, adentrou o estúdio um cara igual ao Gonzaguinha. Com jeito arrogante, cigarro na mão, magro, barbudo, ele perguntou: “Posso cantar?”. Eu disse que sim, claro. Para minha surpresa, a voz, o jeito, tudo era igual ao do personagem. Achei que tinham levado um sósia para lá. Mas quando dirigi a primeira cena, entendi que eu estava de frente para um grande ator. Só depois fui saber que era o Júlio Andrade, que se caracterizou para ganhar o papel.”

Como alguns não eram atores com formação profissional, foi feito uma intensa oficina, que buscava explorar o passado deles. Exemplo máximo foi o de Lima, que pôde explorar o fato de que, ele mesmo, teve problemas de relacionamento com seu pai. Silveira não se cansa de dizer que acha que deu muita sorte com esses atores.

Na composição do filme, entram, inclusive, a gravação da entrevista, que acaba servindo como condutor da narrativa. Mas o longa não tem vergonha de mostrar como os personagens são diferentes de suas contrapartes reais, incluindo fotos e filmagens de shows dos dois músicos. “De algum modo, as imagens documentais ajudam a entender a força musical de Gonzaguinha, entender que a história é verídica, que realmente aconteceu.”

O diretor fala isso, especialmente dos momentos que parecem mais fantasiosos na história do Rei do Baião: “Gonzagão realmente foi preso por causa da perda da bota e sua espingarda voltava descarregada das batalhas, sem que ele tivesse dado um tiro sequer. A história do anão e do engraxate [que Luiz Gonzaga tirou das ruas para colocar na banda] foi contada para mim pelo motorista do carro. Por isso é importante colocar fotos e filmagens, porque a história é tão surreal que nem parece verdadeira.”

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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