Antes de qualquer imagem, há um aviso sobre como os eventos mostrados em “Narcos” são inspirados em fatos reais e que qualquer situação que se pareça com a realidade deve ser tratada como coincidência. O anúncio, dúbio por sua própria natureza, que será repetido no começo de todos os dez episódios, é logo seguido por uma explicação sobre o Realismo Mágico, estilo literário colombiano por excelência, que ficou notório pelos livros de Gabriel García Márquez. A ideia é que elementos fantásticos apareçam na trama quando a realidade já não mais der conta. A explicação não está ali por acaso. Muito da história da ascensão e queda de Pablo Escobar (Wagner Moura) é bizarro demais para que um simples olhar objetivo para os fatos consiga contar. Leia mais
Arquivoagosto 2015
“Corrente do Mal” é, em primeiro lugar, uma metáfora para a Aids. Ou, a rigor, para qualquer outra doença sexualmente transmissível. Mas, o fato de a maldição ser contornável, sem solução objetiva, reforça a relação direta com o vírus HIV. Há um pano de fundo moralizante, claro. Nesse sentido, pregando menos o celibato e mais que, talvez, seja uma boa ideia conhecer melhor a pessoa com quem se divide a intimidade. Mas o ponto é como David Robert Mitchell, diretor e roteirista, usa essa premissa – de uma maldição que se transmite através de uma relação sexual – para criar uma atmosfera genuinamente aterrorizante e opressiva. Leia mais
Tivesse estreado no Brasil à época de seu lançamento original, “O Expresso do Amanhã” iria encontrar um povo que começava a se manifestar contra os desmandos do governo, cujo misto de incompetência e mau caratismo seguiam (e seguem) sendo descontados na população. Dois anos depois, o filme encontra um país dividido. Todos desiludidos, exigindo mudanças, em uma disputa ideológica que, por ser seletiva em relação aos temas que levam à revolta, parece mais e mais implicar em um conflito de classes antes de qualquer coisa. O que faz essa história ainda mais urgente e precisa. Leia mais
Quando foi publicado, em 1943, “O Pequeno Príncipe” não foi um libelo antiguerra. Ao menos não direta ou intencionalmente, mesmo se baseando nas memórias de Antoine de Saint-Exupéry como piloto na Primeira Guerra Mundial e tendo sido lançado no meio da Segunda. Mas há uma relação profunda, via oposição, entre os sentimentos que o Pequeno Príncipe evoca, aprendendo e ensinando, e o conflito armado. Basta notar a sensação de isolamento que o Aviador — alter-ego do autor na obra e, portanto, um piloto da Primeira Guerra — sentia no deserto antes de o Príncipe lhe devolver a humanidade, o que envolve a conexão com seu lado infantil. Afinal, poucas coisas são tão adultas quanto a guerra. Leia mais
Se o primeiro “A Escolha Perfeita” seguia a cartilha dos filmes de amadurecimento em grupo através das competições, muitas vezes pervertendo esse subgênero, sua continuação segue o mesmo caminho. Ou seja, o negócio agora envolve obrigatoriamente um desafio global. Mas como ficou claro que as disputas e a preparação eram secundárias, ofuscadas pelas piadas vindas com a interação dos personagens, a sequência eleva o nível da brincadeira. Mal vemos as Barden Bellas ensaiando, por exemplo. Elizabeth Banks, promovida a diretora, sacou que o barato é deixar Fat Amy (Rebel Wilson) brilhar, para ficar no exemplo mais óbvio. Leia mais
A forma como o suspense é construído na primeira sequência de “Missão: Impossível – Nação Secreta”, quinto filme da franquia que a gente já nem lembra que foi um dia baseada em uma série de TV, já dá o tom. A expectativa está na não explicada ausência de Ethan Hunt (Tom Cruise), que precisa impedir que um carregamento de armas químicas chegue ao seu destino. No último instante, claro, o agente aparece e protagoniza uma manobra alucinada e desesperada, que só ele poderia executar. Neste ponto, o espião é mais uma entidade do que um personagem e, dali em diante, praticamente cada cena irá servir para reforçar seu mito. Leia mais
Há uma série de estilos narrativos mais ou menos consagrados que se entrecruzam em “A Dama Dourada”. É um filme de guerra sob a ótica judia – um filme de holocausto, pois –, um filme sobre conflito de gerações e um filme de tribunal. Tudo temperado com aquela irresistível camada de veracidade que só o “baseado em fatos reais” pode trazer. O resultado é charmoso dentro do limite em que esse tipo de produção se sustenta, o que envolve a média do carisma de seus atores e a mão do diretor para dar ritmo e emocionar quando a trama pede. Leia mais
É possível que se este novo “Quarteto Fantástico” não tivesse que, em algum momento, se tornar um filme de super-heróis, com um mínimo de dilemas morais e batalhas cartunescas, o resultado final tivesse sido mais interessante. Os melhores momentos do filme estão em seu começo, que resgata o espírito de alguns clássicos dos anos 80, como “Viagem ao Mundo da Imaginação” (clima recriado recentemente em “Super 8”), e se desenvolve em uma ficção científica para toda a família. Mas tudo isso dura só até o ponto em que os personagens ganham suas novas habilidades sobre-humanas. Leia mais