“A Escolha Perfeita” retrata o competitivo mundo dos corais americanos

“A Escolha Perfeita” retrata o competitivo mundo dos corais americanos

Dizem que só existem 12 histórias possíveis, narrativamente falando. E que todo filme, livro, peça ou jogo não passa de uma variação de uma delas. Se for verdade, a história do time de desajustados que precisa encontrar forças um nos outros para trilhar um caminho próprio e triunfar onde outros tantos são favoritos, em geral contando com um milagre ou dois no meio do caminho, só pode fazer parte desta dúzia. Exemplos não faltam: “The Ducks”, “As Apimentadas”, “Mudança de Hábito 2”, “Vem Dançar”, “Virando o Jogo”, entre tantos outros. Os exemplos são infinitos. E, agora, infinito mais um.

Em “A Escolha Perfeita”, conhecemos o mundo dos grupos vocais à capela universitários americanos. E, como tudo nos EUA, não basta reunir amigos para praticar e se divertir. É preciso criar agremiações, competições em esfera regional, estadual e nacional, e fazer toda a diversão desaparecer em contexto competitivo. Mesmo uma coisa tão banal quanto um grupo vocal a capella, acaba se tornando uma forma de extravasar o sentimento de “terra de vencedores” dos EUA, coisa que já foi brilhantemente ridicularizada por Will Ferrell em vários filmes (ou você achou que “Ricky Bobby – A Toda Velocidade” era apenas uma comédia besteirol?).

O personagem central é Beca, papel de Anna Kendrick. Tudo o que ela quer na vida é ser produtora musical. Mas seu pai, professor universitário, a obriga a ir para a faculdade, até mais pela experiência que pelo conhecimento. Uma vez lá, ela acaba descobrindo que o câmpus possui dois principais grupos a capella: as Bellas, exclusivamente feminino, e os Terríveis, masculino. Os dois se enfrentaram na final do campeonato nacional, com vitória dos homens. Parte do problema é que, de um ano para outro, boa parte das Bellas se formou, restando apenas duas, o que pede uma renovação.

É aí que Beca acaba entrando para as Bellas, junto do que há de melhor do filme: as personagens secundárias. Em especial Cinthia Rose, uma lésbica negra cheia de atitude, estreia de Ester Dean, e Lilly, uma descendente de asiáticos cuja voz é absurdamente baixa (deixando espaço para ela falar as coisas mais divertidamente absurdas, já que ninguém entende), interpretada por Hana Mae Lee. Fora, claro, Rebel Wilson, roubando todas as cenas em que aparece, merecendo o, até então, injusto, destaque que lhe deram em “Missão Madrinha de Casamento”, como Fat Amy (e sim, ela já se chama de gorda para que as magrelas não a chamem pelas costas).

O filme se desenrola sem muito impacto com o espectador (fora uma ou outra piada divertidamente inapropriada, em geral ditas por Fat Amy). Beca começa a se envolver com um dos cantores do grupo rival, ao mesmo tempo em que sua energia criativa entra em conflito com o tradicionalismo da líder de seu grupo, a controladora Aubrey, papel de Anna Camp. As duas vão ter que resolver suas diferenças em nome do espírito de grupo, que é sobre o que esse filme é, afinal. Aubrey precisa largar seu tradicionalismo, enquanto Beca aprende a valorizar certas tradições. O que, de alguma forma, envolve aprender a gostar de Simple Minds e de “Clube dos Cinco”, um outro grupo de estudantes desajustados que precisavam aprender a trabalhar juntos.

De resto, sobram canções pop contemporâneas, no melhor estilo rádio jovem, que ganham novas versões espertinhas. Especialmente pelas mãos de Beca que encarna o espírito musical do século 21 ao misturar diferentes músicas em mashups. E dá-lhe Madonna, Nick Minaj, Cee Lo Green, Miley Cyrus, Rihanna, Bruno Mars, David Guetta entre tantos e tantos outros (não sobra nem para a abertura da Universal, logo no começo do filme, que é reinterpretada a capella).

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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