As eleições americanas começam bem antes do voto final. O primeiro passo, por lá, é a eleição dos candidatos de cada partido, Democratas e Republicanos, no caso. A campanha é a mesma da final. Debates, comícios, apertos de mão, propaganda, jantares e fotos com bebês. Tudo para garantir o direito de representar seu partido nas urnas e, assim, ser obrigado a passar por tudo novamente.
“Tudo Pelo Poder” é centrado nessas eleições primárias americanas, com o foco no Partido Democrata, que é o mais de centro-esquerda, forçando a barra da classificação política. Nele, acompanhamos Stephen Meyers (Ryan Gosling), que trabalha como assessor de comunicação e mídia para Paul Zara (Phillip Seymour Hoffman), que, por sua vez, é chefe na campanha do então Governador Mike Morris (George Clooney). A equipe é a melhor possível, perfeitamente alinhada em um momento decisivo, mas tudo pode vir por água a abaixo quando Tom Duffy (Paul Giamatti), chefe da campanha rival, faz para Meyers uma proposta, no mínimo, indecorosa.
Claro, é um filme sobre política e jogo político. Vemos, a todo o tempo, todas as promessas e remanejamentos que são parte da estratégia. “É preciso sujar as mãos”, ouvimos em alguns momentos. E toda essa sujeira, toda a loucura entre corruptos e corruptores está lá estampada na tela.
É um filme sobre a seguinte pergunta: é possível manter a integridade depois de participar de tudo isso? Não há respostas simples, e o filme trata de abraçar essa complexidade. É quase como se o idealismo (não ingenuidade, perceba a diferença) de Meyers, afinal, acabasse cobrando um preço, nem tão alto assim, pode pensar o observador incauto. Outro, mais atento, pode alegar, por outro lado, que o personagem nunca foi tão íntegro assim, para começo de conversa. A sutileza da construção dessas figuras é, no mínimo, brilhante.
Clooney, que aqui faz as vezes de co-roteirista e diretor, revela ter um grande domínio técnico e apuro estético. Muito mais que em seus ótimos filmes anteriores: “Confissões de Uma Mente Perigosa” e “Boa Noite e Boa Sorte”. Não são poucos, por exemplo, os closes, que beiram o plano detalhe, quando o assunto tratado entre os personagens é confidencial, como se nós, espectadores, também estivéssemos fazendo parte daquele conchavo.
Por outro lado, quando os personagens se encontram prestes a tomar grandes decisões, o plano se abre, deixando-os sozinhos, ao longe, preocupados. Nessa categoria, há um lindo plano, em que o personagem de Gosling aparece em contra-luz, apenas a sua sombra em contraste, com a bandeira dos EUA (ao contrário) tomando todo o seu fundo.
Além disso, Clooney usa a sua experiência como ator para guiar seus colegas. Cada um entrega o melhor de si, em atuações contidas e delicadas. O descaque óbvio fica para Gosling, mas muito por conta de seu maior tempo em cena. Todo o resto do elenco é, naturalmente, afiado e talentoso. Nas mãos de um bom diretor de atores, gente como Giamatti, Hoffman e Marisa Tomei (no pequeno, mas crucial, papel de uma jornalista), brilham mais e mais.
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Publicado originalmente no Portal POP.