Texto com spoilers. Leia por conta e risco.
A diferença entre o primeiro episódio e este segundo é radical. No que aquele era recaptulatório, este avança a trama. Aquele foi panorâmico, este profundo. O primeiro buscava apenas nos situar diante das várias linhas narrativas; este, até quando faz o mesmo, apresenta uma nova dimensão da história ou dos personagens. Por mais importante que The Red Woman tenha sindo, Home é o capítulo que queríamos ver, afinal, desde o ano passado.
A ideia de lar, evocada no título do episódio, norteia cada uma das sequências deste episódio. Fica bem clara quando vemos Theon Greyjoy (Alfie Allen) dizendo que não irá acompanhar Sansa Stark (Sophie Turner) rumo a Castle Black, onde ela buscará refúgio, preferindo ir para a sua própria casa, nas Ilhas de Ferro. O conceito é igualmente poderoso na cena de reconciliação entre o jovem rei Tommen (Dean-Charles Chapman) e sua mãe, Cersei (Lena Headey), ou de Arya (Maisie Williams) sendo finalmente retirada das ruas – sinal que seu treinamento vai começar enfim.
Claro, nenhum retorno ao lar foi tão dramático ou esperado quanto o de Jon Snow (Kit Harrington), que retorna tanto para Castle Black, onde passou a maior parte da série, quanto para seu próprio corpo. O personagem, em uma surpresa que ninguém esperava, foi ressuscitado por Melisandre (Carice van Houten), cumprindo seu destino de protagonista nos arcos ocidentais de narrativa. Ele precisava morrer para retornar transformado e livre de dúvidas sobre si mesmo para poder afinal liderar uma revolução – funciona assim desde Jesus até Neo.
Nos livros – e a série passa pela mesma lógica – George R.R. Martin busca desconstruir uma série de clichês envolvendo a típica narrativa de fantasia moderna. Daí todo o foco em sexo, violência, política e amoralidade, questões que normalmente ficam em segundo plano (quando não são renegadas completamente). Mas seria um longo salto disso até a rejeição de estruturas narrativas: Jon Snow precisava viver porque ele ainda não fez o que tinha que fazer na história.
É diferente, por exemplo, das grandes mortes da primeira temporada – Ned Stark (Sean Bean), Khal Drogo (Jason Momoa) e Robert Baratheon (Mark Addy). Todos já tinham cumprido seus papéis, suas funções narrativas, e puderam ser despachados. A história não havia evoluído tanto assim e haviam outros personagens que precisavam assumir o protagonismo. O mesmo vale para Robb Stark (Richard Madden), quando perdeu a vida durante o famigerado Casamento Vermelho; já não havia mais nada a fazer com ele. Para Jon Snow ainda existem muitos nós atados.
Há, claro, um lado perverso nisso. Não deveremos ver nenhum dos protagonistas morrer de agora em diante. Todos têm coisas importantes a fazer para avançar a história, e Game of Thrones, por consequência, fica um tanto mais previsível. A série precisará se escorar na brutalidade de personagens como Ramsay Bolton (Iwan Rheon) – cuja ideia de “lar” envolve muitas mortes, inclusive – ou nas visões de Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), assim que acabar o seu treinamento com o Corvo de Três Olhos (Max Von Sydow). Talvez por isso já circulem rumores de que a série tenha apenas mais uma temporada em vista.
Apesar do impacto de todas as sequências, Home ainda mantém a estrutura episódica. Da Caverna do Corvo de Três Olhos para a Muralha, dali para Winterfell, para King’s Landing, Mereen, Ilhas de Ferro, Braavos e de volta para a Muralha onde acontece o esperado retorno de Jon Snow. É como funcionam as estruturas das temporadas. Cada episódio termina com uma revelação ou fato bombástico ao mesmo tempo em que as demais sequências vão aumentando a tensão até a explosão de um evento cataclísmico.
É sempre arriscado apostar em Game of Thrones, mas, com sorte, em breve veremos Jon Snow degolando Ramsay Bolton. Não custa torcer, ao menos.