Fazer um filme no Brasil é coisa para doido. São toneladas de documentos enviados para as leis de incentivo, seguidas de centenas de horas gastas em reuniões com possíveis apoiadores, para, só então, as coisas mais práticas – o cinema em si – começarem acontecer. A coisa se complica quando há uma série de `marinheiros de primeira viagem` à bordo. Mais ainda quando o caso é filmar em um cruzeiro transatlântico, algo inédito no cinema nacional, com cenas no Marrocos e na Itália.
Esse é o cenário, pouco favorável, da produção de “Meu Passado Me Condena”, filme derivado da série de mesmo nome que passou em 2012 na Multishow. “Tudo aconteceu por conta da Marisa Leão, que é uma super-produtora”, disse Fábio Porchat, que se derreteu em elogios à toda a equipe na entrevista concedida por telefone para o Portal POP. Foi Marisa quem resolveu, no final das gravações da série, apostar em um filme, conseguindo fazer tudo isso no tempo-recorde de um ano. Apesar de todos os percalços.
Júlia Rezende, a diretora, também em bate-papo por telefone, lembra que as coisas não foram tão complicadas assim. “O fato de termos feito a série facilitou muito. Não partimos do zero”, diz. Ela se refere à questões como a criação dos personagens, química entre os atores – Porchat e Miá Mello, a co-protagonista, particularmente – ou mesmo o hábito da roteirista, Tati Bernardi, de já escrever para eles. O que é especialmente bom no caso de Porchat, com seu jeitão de improvisador.
“Muito do que parece improviso é do roteiro. Claro que eu coloco cacos, estendo as falas, mas é a Júlia quem sabia dar o ponto de corte”, diz Porchat. Ele ainda aproveita para elogiar o trabalho da roteirista: “ela já conhecia minha embocadura, o que facilita para o meu estilo”, se referindo à velocidade, algo impressionante, com que ele dispara falas ao longo do filme.
Foi Marisa quem deu a ideia de filmar em um navio, contando a história da lua de mel desse casal que mal se conhece e, um mês depois, resolve se casar. Isso se revelou um grande desafio, considerando que este era um navio com outras “cinco mil pessoas que haviam pago e não ficavam confortáveis de interromper sua diversão para as gravações de um filme”, lembra Júlia. Porchat apresenta o outro lado: “é bom essa coisa do confinamento. Você fica mais concentrado.”
Mas o navio não foi, nem de longe, a pior parte das filmagens. Júlia disse que já havia escolhido as locações em Casablanca, no Marrocos, primeira parada do navio depois de cruzar o oceano. Mas ao chegar lá descobriu que “a última equipe de filmagem que esteve na mesquita que eu escolhi como locação fez um filme erótico.” Ela tinha uma janela de 10 horas, que era o tempo que o navio ficaria ali ancorado, que teve que ser suficiente para encontrar novas locações, avisar a equipe do navio, preparar tudo e fazer as cenas.
A diretora faz questão de dizer que boa parte dos méritos dessa sequência são da equipe marroquina, que estavam bem afinados e com o equipamento em ordem. Porque se ainda fosse preciso fazer algum acerto de ordem técnica, é possível que Marrocos tivesse que ser cortado da montagem final.
Se para os atores a transição da TV para o cinema pode ser traumática, Júlia diz ter se sentido mais livre. “Há mais liberdade no cinema”, mas também lembra que são linguagens consideravelmente distintas, “não tínhamos a pretensão de transpor a série para o cinema. A linguagem exige uma série de mudanças. As preocupações estéticas, com figurinos, ou mesmo a estrutura para filmar, como gruas ou steady cams, o tempo para ensaiar, marcam bem a diferença.”
Ao final da entrevista, Júlia falou: “esse é o primeiro filme de muita gente. Meu, da Miá, de muita gente. Então foi um filme feito com bastante tesão, por causa disso.” O resultado estreia amanhã, dia 25, nos cinemas de todo o Brasil e você vai poder conferir se toda essa empolgação é traduzida para a tela.
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Publicado originalmente no Portal POP.