“A Hora Mais Escura” abraça o realismo para contar sua história

“A Hora Mais Escura” começa com o áudio da caixa preta de um dos voos que atingiu o World Trade Center no fatídico 11 de setembro. Sem imagens. Logo depois, ainda no fundo preto, somos avisados de que o que veremos é baseado em fatos reais. Tudo isso faz parecer que Kathryn Bigelow, a diretora, oscarizada por “Guerra ao Terror”, já sabia o tipo de polêmica que causaria com o filme. E quis colocar mais lenha na fogueira.

A trama acompanha o esforço de mais de 10 anos da CIA em conseguir chegar até o famigerado Osama Bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda e autor dos atentados de 11 de setembro, entre tantos outros. O foco da narrativa é na agente Maya, interpretada com bastante competência por Jessica Chastain. Ela se torna obcecada com um possível mensageiro ligado a Bin Laden, que pode ou não estar vivo ou mesmo existir.

Grande parte das duas horas e meia do filme é dedicada ao minuncioso trabalho de levantamento de informações feito por Maya. O que leva a uma aproximação, em estilo, aos dois grandes filmes de espionagem de 2012: “O Espião Que Sabia Demais” e “Argo”. O trabalho de inteligência é entremeado, de tempos em tempos, pelas cenas de tortura, que nem são das mais chocantes já mostradas pelo cinema. Elas só chocam porque Kathryn insiste na realidade delas. E, com essa insistência, fica uma sensação um tanto incômoda de que as torturas estão lá para fins mais sensacionalistas que narrativos.

Para isso, ela usa os melhores artifícios do gênero, que remontam aos filmes da “Trilogia Bourne”. A câmera e enquadramentos assumem um ar de documentário, evitando ficar fixa, ao mesmo tempo em que não força closes. Isso dá a impressão de que somos observadores da trama, criando, simultaneamente, proximidade e afastamento. O recurso é hábil e fica bem difícil não terminar o filme absolutamente convencido de sua total veracidade.

Jessica, indicada ao Oscar por sua atuação neste filme, se esforça para criar um personagem crível, mas toda camada de subjetividade dada a seu personagem, por exemplo, se limitam a um diálogo rasteiro sobre como ela trabalha demais. Isso porque “A Hora Mais Escura” sofre de um dos grandes males do `cinema sério` americano: o excesso de diálogos expositivos. Ações não movimentam a trama, são as falas dos personagens que o fazem.

O resultado é um filme que tem um certo dinamismo, mas acaba arrastado demais para justificar suas duas horas e meia de duração. O ápice disso é no tempo que leva para convencer o governo americano da veracidade das informações e a preparação das ações de invasão na mansão. Isso deveria ser o clímax do filme, mas, ao contrário, acabam dando à sessão uma hora completamente desnecessária de trama.

Nada que chegue a comprometer o todo de “A Hora Mais Escura”, que é satisfatório, apesar de ser tão esquecível quanto seu “Guerra ao Terror”.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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