Armando Iannucci, o diretor, resolve para si o problema da factualidade ao não se interessar particularmente por ele. Em seu filme, hábil satirista político que é, ele se debruça sobre o momento de vácuo de poder. Com a titular morte de Joseph Stalin (Adrian McLoughlin), o famigerado ditador soviético, seu segundo escalão, integrado por facínoras e sicofantas, começa a disputar o comando da União Soviética. A pequenez da politicagem, infantil e egocêntrica, volta a ser tema do diretor, como sempre foi em suas séries, The Thick of It (2005-2012) e Veep (2012-2017), e em seu único outro longa, Conversa Truncado (In The Loop, 2009). Diferente destes títulos, porém, ele precisa lidar com a base factual. É aí que a realidade se impõe sobre o cinema.
Stalin era uma figura deliciosamente bizarra, como era qualquer um de seus colegas ditadores sanguinários. De Pinochet a Mussolini, de Kadafi a Saddam (para ficar nos do Século XX). Segundo o próprio Iannucci, o ditador obrigava os dirigentes do partido a ficar bebendo – enquanto ele mesmo tomava bebidas diluídas em água – até tarde da noite, vendo filmes de John Ford, aguardando o momento em que seus subordinados revelassem algo sobre si mesmos. Como inventar isso? O cinema – a ficção – não tem como dar conta de um absurdo como esse. A delícia de A Morte de Stalin é que o filme é uma imensa coleção de momentos como esse, costurados com a fleuma do humor britânico de Iannucci, que dirige como se fosse algo tão frívolo quanto Um Peixe Chamado Wanda (A Fish Called Wanda, 1988).
É a permissão que Iannucci dá a si mesmo para usar suas melhores ferramentas narrativas como satirista político. Apesar de partir de um momento da história soviética, com os acontecimentos e personagens específicos dele, A Morte de Stalin poderia igualmente ser A Morte de Getúlio, Kennedy ou Perón. A cena da primeira reunião do Partido Comunista sem Stalin, em que a hierarquia de governo se restabelece em um consenso de aparências, é fruto do gênio do diretor. A câmera capta a hesitação de cada um dos presentes em levantar a mão em concordância com o ponto até que tenha certeza de que todos os outros levantaram também. O cinema reflete o absurdo da política.
A trama acompanha de forma comica os ultimos dias do lider e o caos que acontece com o regime apos sua morte. Achei um filme meio confuso com uma historia acelerada demais e muitas vezes cansativa, mesmo sendo uma satira de uma historia real, ainda assim nao gostei muito ????
O ritmo do Ianucci talvez seja mais adequado na televisão, como em Veep, da HBO. Mas o normal é se deparar com esse amontoado de falas que deixa a gente meio perdido mesmo.