1. Porque todo filme de boxe vale a pena ㅡ mesmo aquele em que Orlando Bloom toma leite demais, o que o faz resistente aos socos. Há, afinal, algo de intrinsecamente cinematográfico na trajetória de um boxeador. A sequência de treinamento, alternada com cenas do personagem de tornando uma pessoa melhor depois de toda barra que enfrentou, é um crescendo que recompensa o espectador durante a luta final cuja emoção explode a cada soco, a cada esquiva, a cada vez que ele se recupera do que deveria ter sido um nocaute. Leia mais
AutorLuiz Gustavo Vilela
A colisão entre o real e a fábula fazem de O Regresso (The Revenant, 2015) um filme mais norte-americano do que a princípio indica sua pretensão de recontar a história de Hugh Glass, um mito formador do imaginário estadunidense. As belas imagens, o urso de computação gráfica e a própria história do pioneiro são tão surreais que ㅡ cada uma a seu modo ㅡ criam um tom onírico. Já as histórias da nevasca, tão severa que impediu as filmagens de seguirem normalmente, e o comprometimento do vegetariano DiCaprio comendo um fígado de bisão, usando uma pele de urso e aprendendo duas línguas nativo-americanas, por outro lado, abraçam o discurso realista. Leia mais
O trunfo de Ang Lee em O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005) foi retratar um romance homossexual dentro de boa parte dos parâmeros nos quais uma história de amor proibido hétero seria filmada. Seu pecado foi transformar o melodrama em tragédia, matando um dos dois personagens centrais. O “desvio” é punido e a ordem restabelecida. Carol (2015), de Todd Haynes, parte da mesma premissa, mas avança ao contar uma história cujo drama central está na problematização do estigma social do relacionamento homoafetivo. Leia mais
A crueldade do homem sobre si mesmo não encontra limites. É um poço sem fundo cuja existência insiste em redefinir o que significa ser humano. O Holocausto Judeu durante a Segunda Grande Guerra ㅡ ao lado de outros tantos massacres ocorridos ao longo da história ㅡ é uma das provas de que tudo o que um povo precisa para permitir o horror é fazer uma simples adequação mental que transforma o outro, o diferente, em menos que humano. Com um pouco de retórica e um tanto de força militar este outro também se convencerá e logo estará fazendo até mesmo o trabalho sujo de seu algoz. Leia mais
A construção narrativa é o maior ponto de contato entre o jornalismo e o cinema. Por isso Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight, 2015) é um filme metalinguístico em sua essência. Ao acompanhar uma equipe especializada em jornalismo investigativo do Boston Globe mergulhando fundo em casos de pedofilia acobertados pela Igreja Católica o diretor Tom McCarthy trata do poder que há em uma história. Mas ela precisa ser contada do jeito certo. Leia mais
Poucas vezes o cinema combinou com tanta precisão forma e conteúdo quanto na execução de Steve Jobs (2015). Assim como com as obsessões pessoais do próprio Steve Jobs (Michael Fassbender), sempre na linha fina entre homem de negócios tecnocrata e artista, o roteiro de Aaron Sorkin e a direção de Danny Boyle operam sobre as diversas dualidades que marcaram a personalidade do fundador da Apple. Visionário e mitômano; gênio e fracassado; marcado pela adoção e relutante em relação à paternidade; aquele que mudou o mundo por saber o que as pessoas queriam (antes delas saberem o que queriam) e ainda assim era incapaz de entender seus próprios colegas de trabalho. Leia mais
A lenta sucessão de paisagens nevadas do Wyonming sugere que Os Oito Odiados (The Hatefull Eight, 2015) é um filme anormalmente árido em relação ao cinema de Quentin Tarantino. Assim como nestes cenários não há humanos no filme, relação de sentido coroada com a estátua do Cristo crucificado coberta de neve. A diligência que leva os personagens vai para um lado; Jesus, entre o amargurado e o envergonhado, olha para outro. Leia mais
Isto É Água, transcrição e publicação de seu discurso para alunos que se formavam na Kenyon College, alçou David Foster Wallace ao patamar de guru moderno, para seu próprio horror. Sua fala clamava por mais empatia, argumentando que, do contrário, a alternativa ao individualismo massacrante contemporâneo era a morte. Essa conclusão é parte da angústia e das reflexões do escritor ao longo de sua vida. Seu suicídio no fim de 2008, resultado de uma longa batalha contra a depressão, colaborou para a viralização do texto, aumentando seu hype e o colocando em pé de igualdade com outras grandes obras da auto-ajuda semi-acidental, como Use Filtro Solar. Com sorte, porém, O Fim da Turnê (The End of the Tour, 2015) ajudará a mudar isso, ampliando a percepção do público sobre a visão de mundo de Wallace. Leia mais
Em diversos lançamentos do cinema comercial contemporâneo, a câmera em um leve contra-plongée – inclinada de baixo para cima – é uma escolha técnico-estilística. Serve tanto para esconder coisas que estão espalhadas no chão do set quanto para enquadrar melhor os atores. Em MacBeth: Ambição e Guerra (MacBeth, 2015), porém, é um lembrete de que estamos vendo uma história de pessoas que se colocam acima da vida ordinária. Que são nobres e não plebeus. Leia mais
Já se passou algum tempo desde a estreia do sétimo e mais novo Star Wars. Por conta disso, e pelo meu próprio estilo de escrita sobre cinema, vou me permitir mergulhar em alguns fatos que podem e devem ser considerados spoilers. Se você já tiver visto o filme e/ou não se importar com a revelação de algumas surpresas, siga lendo. Leia mais