De tempos em tempos alguém acha que explicar um personagem profundo é uma boa ideia. Fizeram com Darth Vader e com Hanibal Lecter, para destacar dois grandes vilões do cinema (só deixam o Coringa em paz por um milagre). O malvado da vez é o Conde Drácula, o famigerado Vlad, o empalador, o que faz com que os problemas de Drácula: A História Nunca Contada comecem já na carta de intenções.
Contar a história de Drácula antes do relatado por Bram Stoker em seu romance clássico tem mesmo seu apelo. Mas a necessidade é discutível. Enquanto personagem, o Conde é retratado como a encarnação do mal. Ele não é alguém que é possuído pelo lado sombrio. Ele é a sombra. Por isso é que, do ponto de vista existencial, o filme já parte de um equívoco ao dar ao personagem uma origem de super-herói pop.
A questão, então, é pensar se ele funciona, ao menos, enquanto espetáculo cinematográfico. Do ponto de vista narrativo Drácula: A História Nunca Contada é simples o suficiente para ser acompanhada e confusa o suficiente para nosso cérebro ignorar automaticamente eventuais furos de roteiro e incongruências.
A trama acompanha o Príncipe Vlad (Luke Evans) como um homem que, da infância à adolescência, foi obrigado a lutar pelos Turcos, se tornando um temido guerreiro. Anos depois o novo Rei turco (Dominic Cooper) exige que sejam entregues todas as crianças da Transilvânia. Incluindo o jovem príncipe, para servir no exército da Turquia como ele mesmo serviu. Para salvar seu povo é que Vlad vai atrás do poder das trevas, representado por uma misteriosa criatura (Charles Dance).
Em certo sentido, é como se essa tal criatura tomasse para si a aura do Conde Drácula da literatura. Em parte por conta do trabalho de Dance, mais conhecido como o manipulador Tywin Lannister de Game of Thrones, que aparece aqui bem ameaçador. Mas também muito pelo roteiro que, na ânsia de explicar Drácula, cria um personagem tão sombrio e misterioso quanto a figura central deveria ser para começo de conversa.
O arco narrativo de Drácula se torna então o do herói trágico, que é torturado pelas escolhas que foi obrigado a tomar. Evans sustenta bem o personagem, imprimindo mais peso do que o filme parece exigir, elevando Vlad a uma alma torturada. Ele é um ator que possui alguns recursos interessantes, convencendo tanto nas boas sequências de ação quanto nas cenas dramáticas.
O desfecho termina por afundar um filme que já estava irregular. A desculpa é que a Universal quer fazer deste filme o primeiro de uma reunião de seus monstros clássicos, a exemplo do que a Marvel faz com seus heróis em Os Vingadores. Para juntar o monstro de Frankenstein, a Múmia, o Lobisomen e o Monstro do Pântano em um futuro ainda distante, o final foi refilmado, contrastando brutalmente com o desenvolvimento apresentado até então.
No final das contas a única humanização possível para o Conde Drácula, está em Drácula de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola. No prólogo dessa versão – que não existe no livro -, vemos o personagem amaldiçoar a Deus, conseguindo, com isso, amaldiçoar a si mesmo. São cinco minutos de filme que valem por todo Drácula: A História Nunca Contada.
Se fossem contar a história do Principe Vlad III, o Empalador, personagem histórico que teria sido a inspiração para Bran Stoker criar seu vampiro, seria uma boa. Acho até, pelas primeiras noticias que li sobre esse filme há tempos, que a idéia original era essa, mas com os vampiros novamente popularizados e com a moda de “contar origens”, resolveram transformar o projeto em um filme lucrativo. E cagaran no pau. Esse negócio do cara ser bondoso e se sacrificar em nome da família e do seu povo foi difícil de engolir. Se ao menos o cara tivesse virado mauzão, um vilão a altura de sua fama, daria para passar, mas essa aventurazinha mea boca não merece muito crédito.
E como você escreveu, os 5 minutos do filme do Coppola valem mais do que esse filme inteiro.
Sabia que o Brasil foi a maior bilheteria desse filme tirando os EUA? Pense nisso, cara.
É que pra brasileiro qualquer merda americana serve.
O brasil é exemplo de que algo deu errado, por algum motivo gostamos muito de comédia e por isso quando um filme “sério” faz sucesso por aqui, significa que foi ruim ao ponto de ser confundido com uma piada.