Filosofia e existencialismo marcam “Ender`s Game – O Jogo do Exterminador”

É corajosa a intenção de “Ender`s Game – O Jogo do Exterminador” de se basear inteiramente em uma contradição em termos. No universo do filme, a Terra foi atacada, 50 anos atrás, pelos Formics, uma raça de formigas gigantes intergaláctica que estava atrás de planetas para transformar em colônia. Com sorte, conseguimos vencer. Mas a metade de século seguinte é marcada pela paranoia e preparação para uma nova guerra.

Diante desse cenário, a humanidade começa a se preparar, criando um programa de treinamento militar em que crianças, por terem a mente mais apta segundo uma desculpa qualquer de roteiro, são escaladas para comandar a defesa humana. Entre várias crianças e jovens, acompanhamos Ender, interpretado por Asa Butterfield, mais novo de três irmãos (a trama dá a entender que o governo está controlando a taxa de natalidade da população), que pode ser o grande comandante que o mundo estava procurando.

A contradição está em estruturar uma organização militar, que espera obediência cega e cumprimento de rotinas e esperar que, disso, se consiga um estrategista criativo e genial. Mas, de alguma forma, com um misto de insubordinação e disciplina, Ender emerge. Não sem antes questionar a si mesmo, seus métodos e inclinações, que sempre recaem em violência – nunca desenfreada e sempre estratégica. Nisso, porém, está a razão de seu maior medo, ser perigosamente parecido com seu agressivo irmão mais velho.

O grosso do filme se estrutura em torno da escalada hierárquica de Ender. O confronto entre sua ambição e seu temor em relação ao que significa seu destino. E as pessoas que encontra em seu caminho são todas variações em relação a esses dois pólos. Sejam os oficiais vividos por Harrison Ford e Viola Davis, sejam os veteranos da academia, Moises Arias e Hailee Steinfeld, sejam seus irmãos, Jimmy Pinchak e Abigail Breslin. E não é por acaso, dentro desse maniqueísmo bem disfarçado, que o lado humano seja simbolizado pelas mulheres e o agressivo e violento pelos homens.

Gavin Hood, o diretor, consegue construir uma distopia futurista convincente. O clima de que “o mundo se uniu para combater um mal comum” é bem marcado pela diversidade racial dos cadetes. Ainda assim, de certa forma são cabíveis as críticas em relação ao fato de que a maior parte dos personagens centrais são caucasianos. Coisas do cinema americano.

“Ender`s Game – O Jogo do Exterminador” possui um encerramento simbólico bem interessante, que, parece tão contraditório quanto a própria existência do personagem central. Mas não é. Justamente porque todo o filme é construído justamente nessa contradição, no fato de que Ender, para derrotar seu adversário, estabelece uma profunda empatia com ele.

E se compreender seu inimigo é o caminho para a derrota total, também é o caminho para a harmonia.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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