Game of Thrones – S07E07 – The Dragon and the Wolf

Game of Thrones - The Dragon and the Wolf

Texto cheio de spoilers. Leia por sua conta e risco.

Ainda que talvez seja adequado para uma temporada que foi morna na média, é estranho que um season finale de Game of Thrones seja tão pouco emocionante. Claro, muitas coisas impressionantes aconteceram – mais sobre isso em um instante –, mas nada do quilate de um Casamento Vermelho ou de uma Batalha da Água Negra. Mesmo a temporada passada terminou com uma explosão que eliminou toda uma denominação religiosa e uma família de inimigos de Cersei Lannister (Lena Headey) em um único golpe.

Não é que a traição de Cersei, a consumação incestuosa de Jon Snow – Aegon Targaryen – e Daenerys Targaryen (Kit Harrington e Emilia Clarke), a morte de Lord Baelish (Aidan Gillen) pelas mãos de Arya Stark (Maisie Williams) ou a destruição da Muralha por um Rei da Noite (Vladimír Furdík) montado em um Viserion zumbificado lançando rajadas de chamas azuis não sejam empolgantes. São imensamente divertidas. A tragédia é que são, também, absolutamente previsíveis.

Desde o seu primeiro capítulo que Game of Thrones converge para este momento. As alianças finais são forjadas e a batalha do bem contra o mal, ainda que de forma menos estanque, vai finalmente acontecer. Daí, em parte, vem a falta de surpresas, o que é uma pena, considerando o quão de vanguarda a série foi em suas primeiras temporadas. Parte do problema é que é justamente sua previsibilidade que está no coração do sucesso junto ao público.

Retomemos o já citado Casamento Vermelho do final da terceira temporada: temos um amor proibido, entre Robb e Talisa Stark (Richard Madden e Oona Chaplin), que vai contra interesses políticos. Como resultado são punidos, junto de Catelyn Stark (Michelle Fairley), com morte. Essa estrutura é absolutamente tributária do mesmo melodrama que costura as telenovelas da TV aberta brasileira. É o que nos faz torcer pelos personagens e sofrer quando falham em suas missões.

A diferença é que Game of Thrones sempre foi muito hábil em soterrar os elementos melodramáticos sob uma grossa camada de violência, sexo e artimanhas políticas. Cinismo, portanto. Agora, com os personagens precisando se posicionar para a reta final da narrativa, há pouco espaço para o cinismo que tornou a série interessante para uma parte mais intelectualizada do público. O “novelão” vem à tona, mas há espaço para mais.

Os melhores momentos de The Dragon and the Wolf aparecem nos diálogos mais discretos. O estranho encontro entre as três lideranças, guiado pela demonstração de poder e orgulho de cada um deles, deu o tom geral do episódio. Game of Thrones, em sequências como essas, demonstra porque segue como uma das mais bem dirigidas séries em exibição. É possível destilar o ódio que os personagens sentem uns pelos outros, culminando em um desentendimento, seguido por um falso pacto de não agressão.

No coração desta sequência está um momento ainda melhor: a aguardada reunião entre Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e sua irmã, Cersei. Dinklage e Headey são, sem dúvidas, os dois melhores atores de Game of Thrones, e nesta cena justificam o elogio. Perceba toda a torrente de emoções conflituosas que os dois atores – mais Headey, em particular – são capazes de expressar para além do texto declamado. Este é um momento ainda mais brilhante quando o verdadeiro plano da ocupante do Trono de Ferro se revela.

A falsa intenção de Cersei de apoiar a luta contra os White Walkers sublinha o tema que permeia todo o episódio: a verdade. Jon Snow é verdadeiro demais para mentir para Cersei; depois, não apenas a verdade sobre sua origem é revelada, deixando claro que a revolta de Robert Baratheon (Mark Addy) foi engatilhada em uma falsa premissa, como ele também demonstra seus verdadeiros sentimentos para Daenerys; a verdade sobre as tramas de Lord Baelish é revelada, lhe retirando o domínio dos cavaleiros do Vale, sua única moeda de troca; e mesmo o zumbi aparecendo diante de Cersei é um fato que desmonta seu discurso pós-verdade.

Muitas dessas revelações trazem de volta a dimensão cínica no que poderia ser lido como simples reafirmação de características típicas das narrativas de fantasia. Não é uma subversão tão radical quanto a proposta por George R.R. Martin, autor dos livros que inspiraram a série, mas ao menos não implica em escolhas dissonantes. A luminosidade da união humana dos vivos contra os mortos é conspurcada pela traição de Cersei, pela sombra do incesto de Jon e Dany (que lhes nivela à relação da inimiga com o irmão) e pela própria relação de dualidade e reciprocidade entre Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) e o Rei da Noite.

Há uma cena cortada de The Dragon and the Wolf que deixa mais clara a participação de Bran na revelação das armações de Lord Baelish, culminando em seu julgamento e execução pelas irmãs Stark. O jovem Corvo de Três Olhos forneceu informações fundamentais para que o novelo político se desenrolasse. Esse momento e a discussão com Sam Tarly (John Bradley) servem para demonstrar a extensão de seu poder e influência. Que parece ser manipulada pelo Rei da Noite.

Só assim se explica, em parte, a demora em agir do Rei da Noite no penúltimo episódio, Beyond the Wall. Seria tudo uma armadilha para capturar um dragão, o que lhe possibilitaria finalmente destruir a Muralha – um dragão sob a maldição do Rei da Noite é mais uma manifestação do Fogo e Gelo que batizam os livros originais. Explica, mas não redime o capítulo anterior. Assim como todo o cinismo de Cersei não redime este episódio, menos ainda esta temporada.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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