A Universal se deu conta de que 90% do sucesso dos dois “Meu Malvado Favorito” se deu (injustamente) por conta dos Minions, os estranhos seres amarelos que dividem seu tempo entre atrapalhar Gru e atrapalhar uns aos outros. A consequência óbvia é um filme dedicado a eles, afinal, Hollywood sempre vai optar pelo mais popular mirando em nossos bolsos (e bonequinhos dos Minions vão vender como água). Mas, do ponto de vista artístico-narrativo, que é o que nos interessa aqui, isso nem sempre é uma grande ideia.
A sequência de abertura se dedica a explicar a origem e a motivação dos Minions. Eles são criaturas ancestrais que evoluíram em paralelo às demais criaturas, sempre buscando servir ao maior malvadão do pedaço. O que significa, dado o modus operandi dos pequenos adoradores de banana, que a maioria dos chefes não sobrevive muito tempo depois de eles começarem a prestar seus serviços. Depois de se frustrar ao longo da história, eles resolvem entrar em reclusão. Mas a necessidade de servir fala mais alto e três deles partem em uma missão para achar o maior vilão do mundo.
É quando o filme começa de fato. Kevin, Stuart e Bob chegam na Nova York dos anos 60 e logo descobrem uma convenção de vilões. Uma vez lá, grudam em Scarlett Overkill (apropriadamente, voz de Adriana Esteves no Brasil), uma espécie de consenso em relação aos bandidos, a maior e mais eficiente entre eles. Logo partem para Londres com a intenção de roubar a coroa real britânica para a nova chefe. O resto da trama se desenvolve a partir daí.
Essa sucessão de acontecimentos pode parecer atropelada para um filme de 90 minutos, mas esse acaba sendo o grande trunfo de “Minions”. É uma forma de manter a atenção das crianças, cada vez mais acostumadas à brevidade de vídeos curtos, mantendo vivo o interesse na história. Por isso, personagens entram e saem de cena o tempo todo sem que haja uma preocupação em reencaixá-los na história. Os melhores até voltam, como a família de assaltantes que dá carona aos três. Mas acabam mais como figurantes depois de cumprirem seu papel.
“Minions” acaba resultando em uma espécie de colagem de curtas, a maioria protagonizados pelos ajudantes amarelos, que é o que dá coerência ao filme. Mas cada um possui uma temática própria. Exemplo disso é a apresentação de Scarlett, que reflete o começo do pensamento feminista dos anos 60, com a personagem dizendo que se tornou a melhor dentro de um “trabalho” dominado por homens. Mas esse discurso não reverbera no resto do filme, ficando encerrado a esse momento específico.
Dentro dessa lógica, a segunda metade do filme é ainda mais interessante por se ambientar na Swinging London, nome dado à efervescência cultural da capital inglesa da segunda metade da década de 1960, em total sintonia com o movimento hippie nos EUA. As piscadas de olho vão desde a trilha, com The Who, até uma certa faixa de pedestres sendo atravessada na Abbey Road, passando por um dos três Minions conseguindo tirar da pedra a mítica Excalibur. Essa é, também, a forma que a Universal achou para recompensar os adultos que, de outra forma, talvez se entediassem de levar as crianças para uma sessão.
Como protagonistas, os Minions funcionam (especialmente pela ideia de usar apenas três deles). Mesmo sendo um pouco excessivas, as trapalhadas deles têm graça até para adultos, mesmo que não haja leituras mais profundas, como a Pixar, principal estúdio de animação americano, costuma fazer. Mas, dependendo do humor do dia, pode ser um pouco irritante assistir a um filme inteiro protagonizado por três personagens que sofrem de um profundo déficit de atenção.
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Publicado originalmente no Portal POP.
[…] ganham ainda mais importância e espaço neste segundo, meio que já fazendo sala para o vindouro filme que é inteiramente dedicado à eles. Não há cena em que eles não estejam envolvidos, nem que seja no fundo, fazendo alguma graça. E […]