O próprio Quentin Tarantino já fez essa divisão de sua obra. De um lado haveria uma espécie de universo real, ainda que ultra-violento, como em Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994). De outro estariam abordagens ainda mais fantásticas, representadas em boa parte de sua obra recente, como Kill Bill (2002 e 2003), Bastardos Inglórios (2009) ou Django Livre (2012). Seriam estes últimos os filmes que os personagens de seus trabalhos dos anos 90 assistiriam para se divertir. Era Uma Vez Em… Hollywood (2019), que estreia esta semana no Brasil, de alguma forma concilia estes dois polos. Ainda que eles nunca tivessem sido exatamente opostos, não tiveram oportunidade de coexistir simultaneamente.
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A colisão entre o real e a fábula fazem de O Regresso (The Revenant, 2015) um filme mais norte-americano do que a princípio indica sua pretensão de recontar a história de Hugh Glass, um mito formador do imaginário estadunidense. As belas imagens, o urso de computação gráfica e a própria história do pioneiro são tão surreais que ㅡ cada uma a seu modo ㅡ criam um tom onírico. Já as histórias da nevasca, tão severa que impediu as filmagens de seguirem normalmente, e o comprometimento do vegetariano DiCaprio comendo um fígado de bisão, usando uma pele de urso e aprendendo duas línguas nativo-americanas, por outro lado, abraçam o discurso realista. Leia mais
O mercado de ações é a perversão máxima do sistema capitalista. Ganha-se dinheiro, e muito, sem que nada seja produzido. Nem um cinzeiro. Nada. Em tempos de crise financeira, nada mais natural que a ficção se volte para esse universo, que se materializa em Wall Street. E, agora, Martin Scorsese concentra todo o vazio do enriquecimento que, mesmo quando é lícito, é imoral, em uma única figura: Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio.
Em geral é injusto com um filme fazer comparações com a obra literária que lhe deu origem. Mas quando se trata de um livro tão importante e com tantos méritos quanto “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, um dos maiores romances americanos do século 20 (em minha modesta opinião), a injustiça é com o livro. E, considerando que em todo um mundo de histórias de amor em que Baz Luhrmann poderia se apoiar para fazer seus exercícios de estilo ele resolveu escolher justamente a história de Jay Gatsby, a responsabilidade da injustiça fica com o diretor. Leia mais
Quentin Tarantino, no final catártico de “Bastardos Inglórios”, fez uma declaração aberta. Ele acredita que o cinema é uma ferramenta poderosa, capaz de mudar o estado das coisas. Em “Django Livre” ele leva essa tese a um limite ainda inédito em sua carreira. Mais do que fazer a homenagem fetichista aos filmes de faroeste, Tarantino quer, aqui, dar uma oportunidade simbólica de revanche para os negros escravizados pelos EUA no século 19. E isso não é pouca coisa. Leia mais