“Antes da Meia-Noite” lida com questões mais maduras que antecessores

Julie Delpy e Ethan Hawke em Antes da Meia-Noite

Eles eram jovens que se encontraram e se amaram e tinham a vida toda pela frente. Agora eles já não são mais tão novos assim e uma boa parte de seu tempo já passou. E isso tem um peso enorme sobre suas (nossas?) vidas. Especialmente porque quanto mais velhos ficamos, menos tempo gastamos com nós mesmos, mas com filhos, trabalho, contas e assim por diante.

Esse é, desde sempre, o ponto forte desses filmes – “Antes do Amanhecer”, Antes do Pôr-do-Sol” e este “Antes da Meia-Noite”, que se tornaram uma trilogia quase por acidente. Essencialmente, são todos sobre o mesmo casal, Celine e Jesse, sempre interpretados por Julie Delpy e Ethan Hawke, se encontrando, caminhando e conversando. O fato de haver quase dez anos de diferença entre cada um, com os atores envelhecendo junto de seus personagens, traz uma relação toda nova com o espectador.

Agora Jesse já não é mais aquele jovem americano, de cabelos ensebados, nem mesmo o escritor fenômeno, recém-publicado. Nem Celine é mais aquela francesa charmosíssima (até parte do sotaque, graças ao convívio, ela perdeu). Eles estão um pouco mais gordos e, como todo casal, cheios de insegurança em relação à sua aparência e a imagem que o outro tem deles mesmos. Chega a ser cruel quando ela pergunta para ele se ainda hoje ele a chamaria para saltar do trem.

Atente para o simbolismo dos títulos, que faz relação direta com os períodos do dia em que o filme se passa. O primeiro acontece à noite, porque são jovens que possuem tempo e disposição para varar a madrugada. O segundo é em uma tarde, são adultos e essa é sua hora mais ativa. Já este terceiro pega um dia inteiro até a meia-noite. Isso porque eles não podem mais se dedicar apenas a si mesmos.

Suas filhas, gêmeas, precisam de atenção, seus amigos querem passar tempo com eles ou o celular toca com alguma questão relativa ao trabalho. Eles estão juntos, mas em outros mundos. É por isso também que esse é o mais fragmentado dos três, que cobre um espaço de tempo maior. Pela falta de tempo. E aí, depois de todos esses anos, eles ganham uma noite romântica, só para os dois, que é quando o filme se desenvolve. É quando eles têm tempo um para o outro. E é quando eles têm espaço para mágoas aflorarem.

Como os outros, o filme se sustenta com os roteiros e atuação. E, talvez mais do que a atuação dos dois individualmente, com seu entrosamento em tela, dessa vez potencializado pelo fato de que ambos colaboraram no roteiro. A química entre os dois, mais o carinho da câmera do diretor, Richard Linklater, dão o tom. É um filme diferente dos outros dois, mas, ao mesmo tempo, é o mesmo filme. Um grande filme que se passa ao longo de duas décadas.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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