“Homem de Ferro 3″ enfoca mais em Tony Stark do que na armadura

Homem de Ferro 3

Mesmo um homem como Tony Stark fica abalado depois de passar por aquilo tudo em “Os Vingadores”. Exécito alien, semi-deuses, Hulk, lendas americanas e até pegar uma bomba nuclear com as mãos. Tudo isso deixou o nosso playboy, gênio, milionário, filantropo favorito à beira de um colapso nervoso, o que resulta em um acesso de criatividade sem igual. Isso, junto de alguns fantasmas do passado, que voltam para assombrá-lo, mais um terrorista internacional completamente insano, compõe o cenário de “Homem de Ferro 3″.

Kevin Feige, manda-chuva do Marvel Studios, já disse que gosta de pensar nas aventuras dos heróis da casa como filmes de gênero disfarçados de filmes de heróis. Dessa forma, “Homem de Ferro 3″ é um thriller de ação dos anos 80, coisa que fica bem marcada na cena da “invasão da mansão” e da “batalha no porto”, além dos créditos finais, que lembram muito as aberturas de séries de TV classudas.

O maior culpado em relação ao tom é o diretor, Shane Black, que já tinha trabalhado com Robert Downey Jr. em “Beijos e Tiros”, outro revival de thrillers oitentistas. Ele também é roteirista dos quatro “Máquina Mortífera”, suprassumo do gênero. Não é de graça, portanto, aquela longa sequência envolvendo um garotinho muito mais esperto do que a sua idade, servindo de escada (como quase todo o resto do elenco) para as piadas de Tony. Crianças espertinhas é outra das grandes marcas dos anos 80, para nem começar a falar na temática natalina.

Funciona? Depende de como você encara o filme. O terceiro “Homem de Ferro” se encontra em uma encruzilhada. Ou eles faziam mais do mesmo, ou se arriscavam em uma mudança de tom. E, ainda que faça muita falta a trilha sonora evocando clássicos do metal, por mais óbvio que fosse, a escolha estético-narrativa faz sentido. Porque, afinal de contas, este não é um filme sobre o herói Homem de Ferro. Mas sobre o homem por dentro da armadura.

Todos esses elementos são colocados enfileirados para que possamos acompanhar o grande exame de consciência de Tony Stark. Afinal, quem ele é depois de se deparar com todos esses seres tão poderosos? Onde termina o homem e começa a armadura? E o que resta dele sem a carenagem? Por isso a maior parte do filme envolve Stark indo investigar a relação dos atentados com os tais fantasmas do passado, praticamente desarmado e enfrentando seres com poderes sobre-humanos.

E Tony precisa ser melhor do que isso sozinho. Usando seu gênio, em uma sequência tirada diretamente de “Profissão Perigo”, ele tenta colocar as chances a seu favor. Porque toda a desculpa desse filme envolve alijar Tony de sua armadura, em uma relação que o estava deixando mais do que dependente – note que sua única boa noite de sono envolve dormir dentro da armadura, em vôo. Ainda assim, quando ele recupera o contato com seu equipamento, e vemos o resultado de todas as duas noites de trabalho intenso, o resultado é uma cena de ação, no mínimo, insana. Mas dá, se você quiser ser chato, para dizer que seria legal ver as diversas armaduras sendo mostradas com um pouco mais de detalhes.

Claro, nem só a mudança de tom é potencialmente incômoda. Os fãs dos quadrinhos podem se revoltar, e muito, com a caracterização do Mandarim, por melhor que seja o trabalho de Ben Kingsley, mesmo a coisa ficando bem balanceada com o Aldrich Killian de Guy Pearce e fazendo sentido no contexto da história. E os fãs de bom cinema também podem abraçar a mesma revolta por conta do epílogo, com narração em off de Tony Stark, que, quase como um passe de mágica, altera todo o status do personagem diante daquele universo. Sem necessidade alguma.

Por fim, um aviso: não levante da poltrona antes dos créditos. Como já é comum nos filmes da Marvel, há, sim, uma cena extra.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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