“R.I.P.D. – Agentes do Além” escolhe os clichês errados

É injusto dizer que “R.I.P.D. – Agentes do Além” é uma mistura de “MiB” com “Os Caça-Fantasmas”, como se está dizendo muito por aí. É, afinal, uma mistura de “MiB” com “Ghost”. Mas não é uma combinação pura, já que o que temos aqui não é o melhor dos dois filmes, senão apenas as aparências. Porque, na verdade, uma versão de “MiB” com fantasmas, tinha tudo para dar certo.

Acompanhamos, no filme, o pós-vida de Nick, papel de Ryan Reynolds, um dos bons policiais de Boston, morto em serviço. Logo que chega no Além, para ter uma chance de evitar o inferno, ele topa servir no corpo policial dos fantasma. É quando entra em cena Roy, interpretado por Jeff Bridges, que se torna seu parceiro, ainda que relutante. Logo os casos simples de levar os fantasmas que se recusam a irem para o céu ou para o inferno – ou `passar pelo sistema` – levam a uma trama conspiratória maior, que é o que sustenta a narrativa da segunda metade do filme.

À primeira vista, todos os elementos de “MiB” estão lá. A agencia supernatural, as formas como a sociedade humana e seres de outro mundo coexistem, a dinâmica de parceiros, as armas estranahs. Mas quando escavamos um pouco, vemos que não é bem assim. Muito pouco do universo é explorado, em benefício da história de Nick, que se ressente de não poder proteger sua esposa que é assediada pelo homem que o matou.

Esse é o lado “Ghost” da trama, e que não funciona em absoluto. A ideia por trás disso até que é nobre: tornar os personagens mais humanos, especialmente como forma de compensar a falta de carisma de Reynolds. Mas a questão é que isso não é necessário para que nós nos importemos com eles. E, como é um clichê óbvio demais, fica superficial demais para que nos importemos de verdade com a situação.

Já da parte de Bridges, seu personagem rende os melhores momentos, mesmo que ele esteja apenas repetindo os trejeitos que ele já havia explorado em “Bravura Indômita” – mas, bem, é um papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Se funciona para ele, quem sou eu para discutir, certo? Mas o problema é na dinâmica entre ele e Reynolds, que já começa no roteiro.

Veja bem, uma das boas coisas de “MiB” – e insisto na comparação porque ela é pertinente – é que, apenas do personagem de Tommy Lee Jones, apesar de ser rabugento, quer ter Will Smith como parceiro. O que só potencializa a química natural entre os dois. Roy não tem o menor interesse em ter um parceiro, repetindo o clichê irritante do policial veterano e solitário.

O que sobra de interessante, além da fanfarronice de Bridges, são uma ou outra piada. Especialmente as que envolvem o fato de que, depois de mortos, eles não voltam para a Terra com seus corpos originais – ou, ao menos, as pessoas vivas não os vêem assim. O chiste já está no trailer, mas o roteiro até que o explora bem, de forma pontual. A pena é que não conseguiram pensar em nada mais além disso.

Publicado originalmente no Portal POP.

Sobre o autor Veja todos os posts

Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *