Affleck aponta o mau caminho para Timberlake em “Aposta Máxima”

Por trás de todos os giros de câmera e edição estilosa, por trás de todos os diálogos espertinhos, disparados com velocidade e elegância, por trás de toda a superfície que é “Aposta Máxima”, o que existe é a cruzada humana rumo à corrupção e a tentativa de libertação. Essa degeneração da alma, postula o filme, é trazida por uma série de verdades convenientes que contamos a nós mesmos para justificar a vida fácil. Não há crime se são as vítimas quem dão o nó na corda, a põe no pescoço e ainda por cima pulam do cadafalso por si mesmas.

A alma que vai se corrompendo é a de Richie Furst, interpretado por Justin Timberlake. Por conta de uma série de caminhos tortuosos, ele acaba na mira de Ivan Block, magnata dos jogos de azar virtuais vivido por Ben Affleck. Este é o corrompedor que dá o empurrão final para a degradação moral do nem-tão-inocente-assim jovem. Tudo apoiado no jogo de fumaça e espelhos que é a vida que eles levam no paraíso fiscal e tropical.

Não dá para dizer que é Ivan quem leva Richie para o `mau caminho` sozinho, para começo de conversa. Mesmo antes de conhecê-lo, ele já se apoia nos mesmos argumentos que o futuro empregador usa para justificar suas atividades paralelas – ele aliciava alunos e professores da universidade onde faz doutorado para entrarem nos jogos, ganhando uma modesta comissão. Ele diz, tanto para o Reitor quanto para si mesmo, várias vezes que tudo o que faz é mostrar para as pessoas uma oportunidade e elas que façam o que quiserem com seu dinheiro. E, além disso, ele não teria outra forma de bancar seus estudos.

E é exatamente isso o que Ivan faz com Richie. No primeiro momento, não há obrigatoriedade, coerção ou chantagem. Há uma oportunidade que pode ser agarrada ou não. E, seduzido pelo luxo de uma vida que acredita ser sua por direito, ele mergulha cada vez mais fundo. Há a oportunidade de dinheiro suficiente para pagar o doutorado, onde ele poderia assumir um trabalho, digamos honesto. Mas, jovem ambicioso que é, nem pisca para aceitar a oferta. E ele seguirá acreditando nas meias verdades de Ivan e mentindo para si mesmo e para seus colegas até receber um, digamos, choque de realidade.

E note que, para se livrar, ele terá que abraçar ainda mais esse lado sombrio e jogar tão sujo quanto Ivan. A lição, talvez, é a de que não há redenção ou salvação verdadeiras. Somente uma ilusão de liberdade, personificada por Rebecca, interpretada por Gemma Arterton. Ela é a parceira de Ivan e interesse amoroso de Richie. E, no fundo, a grande aposta que deve ser feita. Acreditar ou não nela é a chave para que tudo dê certo. Em parte, o mesmo vale para o agente do FBI vivido por Anthonie Mackie, mas em medida muito menor. E é difícil tomar essa decisão quando o inferno parece tão bonito e brilhante e o paraíso é um caminho de espinhos.

Tanto Timerlake quanto Affleck interpretam dentro de sua zona de conforto habitual, o que funciona muito bem. O primeiro é jovem, bonitão, ambicioso e esperto, fazendo um personagem jovem, bonitão, ambicioso e esperto. Já o segundo, assim como em seus filmes anteriores, se apoia em sua falta de expressividade para compor o personagem. O que passava como profissionalismo duro em “Atração Explosiva” e em “Argo”, aqui se torna cinismo puro.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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