Sétimo

Ricardo Darín em Sétimo

É Ricardo Darín a força que move Sétimo, longa comandado por Patxi Amezcua, no roteiro e na direção. Não é por acaso que a maioria das cenas terá seu personagem, o advogado Sebastián, no centro. Mais até: é justamente quando a narrativa se afasta do ator que o filme perde ritmo. O que não chega a comprometer muito, já que isso só acontece bem no final.

A primeira cena já estabelece Sebastián como um tipo tão bonachão quanto ocupado, passando uma cantada na secretária que o avisa de uma mudança no importante compromisso que possui no tribunal mais tarde. Ele está a caminho do apartamento da ex-mulher, onde deverá pegar os filhos para os levar à escola. Uma vez lá, como de costume, resolvem repetir uma brincadeira recorrente: ele desce de elevador enquanto as crianças tentam chegar primeiro de escada. O drama começa quando ele chega, mas os filhos não.

Logo fica claro que Amezcua está rezando pela cartilha de Alfred Hitchcock ao colocar um homem comum no centro de uma situação extra-ordinária. E Darín, assumindo sem problemas as tamancas de James Stewart (o homem-comum habitual do mestre Hitch), dá alma para um filme que com outro ator dificilmente seria algo além de um thriller ordinário.

A forma como ele vai perdendo a calma aos poucos, à medida em que descarta, uma a uma, as possibilidades de quem poderia ter levado as crianças é o que salta aos olhos. O tom de voz vai se alterando gradualmente, o rosto se contorce e a paranoia se instaura. Cada vez que a câmera enquadra Darín podemos acompanhar a luta interna de Sebastián, que sofre para não deixar a loucura e a desconfiança se instaurarem enquanto se esforça para analisar friamente os possíveis culpados.

Nesse sentido Sétimo ensaia um interessante comentário social, já que toda a desconfiança de Sebastián e de sua ex-mulher, Délia (Belén Rueda), é voltada para pessoas que acabaram prejudicadas pelo seu estilo de vida classe-média-cada-um-com-seus-problemas. São os vizinhos que não gostam — ou gostam demais — de crianças, ou aqueles que tiveram uma querela com o condomínio, ou ainda algo relacionado aos casos defendidos por Sebastián. A paranoia do casal é a ressaca do individualismo brutal das cidades. Uma pena que o roteiro apenas resvale e não se aprofunde nisso.

Mas a pena maior é que esse mesmo roteiro, tenso e instigante, patina de forma tão impressionante em seus últimos minutos. Não é apenas por deixar de acompanhar Darín e seu Sebastián (mas também por isso). Sétimo comete o erro de achar que precisava muito de um desfecho impactante, com direito a uma surpresa que não se encaixa narrativamente, ainda que faça sentido.

Para a nossa sorte isso acontece tão no final que já não importa. Os méritos já foram mais do que suficientes para nos ganhar. Mesmo que possivelmente Sétimo não sobreviva a uma segunda sessão tão bem assim.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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