Ferguson, Missouri, 2014. Michael Brown, um jovem negro de 18 anos, desarmado e sem nenhum antecedente criminal, é assassinado por um policial. Oakland, Califórnia, 2009. Oscar Grant, um jovem negro, é algemado com o rosto no chão e, ainda assim, é baleado por um policial. Mesmo 50 anos depois do movimento pelos direitos civis, que buscavam igualdade jurídica para negros nos Estados Unidos, as questões raciais seguem no centro do debate social e político norte-americano (e brasileiro, em diversos sentidos, convenhamos). “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” é sobre um dos pontos focais dessa história: o surgimento do N.W.A., grupo de hip-hop que levou a realidade das ruas para suas músicas, atraindo ódio e simpatia do resto do mundo em igual medida. Leia mais
Arquivooutubro 2015
Com “Sicario: Terra de Ninguém”, Denis Villeneuve entra para o seleto time de diretores autorais. Quando analisamos e comparamos suas obras, observamos a presença de uma temática persistente. Neste seu quarto filme, já começa a ficar claro quais são os temas que lhe interessam, que o motivam. Ou, em seu caso específico, os temas que tem trabalhado até aqui, de forma alternada. Em “Incêndios” e “Homem Duplicado”, a discussão era sobre a identidade, como ela se forma e como se mantém depois de um trauma. Já em “Os Suspeitos” e “Sicario”, a questão moral preenche a tela. Leia mais
A sequência que abre “Ponte dos Espiões” é impecável. Com uma precisão cirúrgica e numa impressionante economia de diálogos, Steven Spielberg nos conta tudo o que precisamos saber sobre Rudolf Abel (Mark Rylance), imigrante que é investigado e logo será preso por espionagem contra os EUA. A cena fica ainda mais importante para estabelecer o caráter do advogado James B. Donovan (Tom Hanks), que ficará responsável por defendê-lo em um tribunal democrático. Nós sabemos que Abel está recebendo e enviando informações clandestinamente para alguém (nunca fica claro se é a Alemanha Oriental ou a União Soviética). Donovan não, mas o defende mesmo assim. Leia mais
O primeiro plano de “Beasts of No Nation” é o que se chama de enquadramento dentro do enquadramento. A câmera está voltada para um jogo de futebol, observando através do quadro da moldura de uma televisão. “TV da imaginação”, como veremos Agu (Abraham Attah) descrever depois. Aos poucos a imagem abre para revelar outras coisas que estão em volta. Com isso, Cary Joji Fukunaga nos diz que há muito mais sobre a guerra africana do que irá aparecer no filme. Que o cinema de ficção não dá conta de uma realidade ainda mais dura e desesperadora do que a que veremos no filme. Leia mais
“Cuidado com a Colina Escarlate”, sussurra a aparição fantasmagórica nos primeiros minutos do filme. É um aviso sobre o futuro de Edith Cushing (Mia Wasikowska), ainda criança. Algumas sequências depois, a mesma personagem aparece falando que os fantasmas do livro que está escrevendo são uma metáfora para o passado. É importante para Guillermo del Toro, o diretor, deixar bem claro esse contraste entre o que a personagem central entende que são os fantasmas e o que eles fazem de verdade. É por isso, também, que ele está mais interessado na criação de um clima de tensão do que nos sustos fáceis que este subgênero, o filme de mansão assombrada, costuma evocar. Leia mais
Há um momento em que os grandes estúdios chegam a um ponto de saturação em relação a um gênero, permitindo que cineastas autorais tomem as rédeas e o pervertam. Aconteceu com o cinema de vampiro, que alcançou esse ponto em “Crepúsculo”, sendo retrabalhado depois com Jim Jarmush e seu belo e poético “Amantes Eternos”. Com os épicos de fantasia que dominaram os cinemas nos últimos anos aconteceu o mesmo. Depois de vários títulos, como “Branca de Neve e o Caçador”, “Alice no País das Maravilhas” ou mesmo “A Garota da Capa Vermelha”, pensava-se que o ponto de virada viria com este “Peter Pan”, dirigido por Joe Wright. Mas ainda não foi desta vez. Leia mais
Atravessar o espaço entre as Torres Gêmeas do World Trade Center se equilibrando em um cabo de aço é o momento definidor da vida de Philippe Petit, até então um simples artista de rua de Paris. Seu ato, ao mesmo tempo, se tornou definidor das estruturas gigantescas de aço e concreto que se destacavam no horizonte de Manhattan. Pelo menos, até o 11 de setembro de 2001, quando elas vieram abaixo na maior ação terrorista realizada em solo americano do último século. Ao celebrar, porém, um ato artístico que ressignificou aquele espaço, “A Travessia” celebra não apenas a coragem, habilidade e persistência do artista, mas também a própria estrutura arquitetônica que desafiou os limites do gênio humano. Leia mais