“Branca de Neve e o Caçador” diverte mas atuação de Stewart compromete

“Branca de Neve e o Caçador” diverte mas atuação de Stewart compromete

Ao pisar no cinema para uma sessão de “Branca de Neve e o Caçador”, uma coisa é certa: não há como essa abordagem para a fábula clássica ser pior do que “Espelho, Espelho Meu”, que estreou por aqui alguns meses atrás. Isso não quer dizer que estamos diante de um clássico instantâneo do cinema, muito pelo contrário.

A ideia aqui é carregar nos tons mediavais e épicos, usando como base o clássico dos Irmãos Grimm “Branca de Neve e os Sete Anões”. A Rainha Ravenna (Charlize Theron) mata o Rei (Noah Huntley), toma o trono e aprisiona a Princesa Branca de Neve (Kristen Stewart). A Princesa escapa para a floresta negra e a Rainha coloca em seu encalço o Caçador Erik (Chris Hemsworth), o único que esteve por aquelas bandas e viveu para contar história.

O primeiro grande erro da produção está na escalação de atores. Atrizes, para ser mais exato. A coisa da beleza, da fábula original, é bastante reforçada ao longo do filme como fonte de poder da Rainha. E não há plano existencial em que Kristen Stewart seja mais bonita que Charlize Theron. O segundo grande erro é Kristen.

Se há uma vantagem da interpretação da eterna Bella em “Branca de Neve e o Caçador” é que a câmera do diretor estreante Rupert Sanders não fica girando em torno dela, como na “Saga Crepúsculo” (há uma história a ser contada, afinal). De resto, sobram bocas entreabertas e olhar vazio para o horizonte cada vez que a Kristen é enquadrada.

Quem acaba brilhando é Charlize, podendo trabalhar bem com Ravenna, construíndo para ela uma história de fundo que a humaniza de uma forma inédita em contos de fada. A Rainha não é simplesmente uma força da natureza, mais uma coisa que um indivíduo. Alguém que sofreu bastante no passado e busca simplesmente proteger a si mesma e àquilo que lhe é mais caro. Quase exatamente como o Caçador de Hemsworth, que, com esse personagem tem mais possibilidades de dar camadas dramáticas que em “Thor”.

Neste contexto, é uma pena que não há mais espaço para os anões, estes sim um elenco de peso: Sam Spruell, Ian McShane, Bob Hoskins, Ray Winstone, Nick Frost, Eddie Marsan, Toby Jones e Johnny Harris (são oito, mas contar o porquê é spoiler). Ao final, você quase deseja um filme estrelado apenas por eles.

Entre o foco na inexpressiva Stewart e no resto do elenco fazendo o que pode, sobram boas cenas de ação, mescladas com um visual impressionante. As criaturas, batalhas, perseguições e cenários (ainda que lembrem demais a “Trilogia do Anel”) são das coisas que valem a pena ver na sala de cinema, ou em uma boa TV de alta definição. Mérito ainda maior pelo fato de não ser em 3D, coisa rara nesta segunda década do século 21.

O roteiro segue a quase clássica trajetória messiânica. Branca de Neve peregrina pelo reino, fugindo do mal e juntando aliados que a ajudarão na insurreição final, se tornando uma Joana D’Arc. Ela precisa duvidar de si, ter provas de ser a escolhida, mergulhar nas trevas para ressurgir triunfal. Da Bíblia (e antes dela) a “Matrix”, essa história foi contada e recontada inúmeras vezes. E se foi recontada, é porque segue funcionando bem.

Afinal, se você queria originalidade, não deveria ir ver um filme sobre a Branca de Neve, para começo de conversa.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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