“S.O.S. – Mulheres ao Mar” se afunda nos erros da comédia nacional

SOS Mulheres ao Mar

Os momentos dramáticos do mais novo exemplar de comédia romântica nacional são marcados por uma versão lounge-picareta de “Gostava Tanto de Você”, um clássico do Tim Maia, com uma daquelas interpretações dignas de show de calouros (de Raul Gil à “The Voice”, tudo igual). Feito na medida para passar a ilusão de sentimento legítimo, mas completamente vazio de substância e significado. E é perfeita para ilustrar um filme com as exatas mesmas características.

Giovanna Antonelle faz Adriana, eterna aspirante a escritora que trabalha traduzindo filmes pornô, que é avisada por seu marido, Eduardo, vivido por Marcelo Airoldi, que ele quer se separar. Pior: está sendo trocada por uma atriz de sucesso nacional, mais jovem e mais bonita, papel de Emanuelle Araújo. Ela resolve, então, embarcar no mesmo navio que os novos pombinhos estão, rumo à Itália, junto de sua irmã ninfomaníaca e secretária do lar (aparentemente é importante ter um representante da classe c emergente) vividas por Fabiula Nascimento e Thalita Carauta. Reynaldo Gianecchini aparece no meio do caminho porque essa é uma comédia romântica, afinal.

É um negócio da China. A empresa de cruzeiros ganha um vídeo institucional de uma hora e meia disfarçado de filme e as pessoas ainda vão pagar para ver. As tomadas, enquadramentos e situações são feitas de forma a valorizar tudo o que as férias no navio podem fazer por você. Nada errado nisso. As condições de produção do cinema nacional precisam sair de algum lugar. A questão é que alguém pode realmente achar que está vendo um filme feito para entretenimento puro.

Como todo representante das comédias nacionais – de alguns dramas também -, “S.O.S. – Mulheres ao Mar” padece do mal da falta de roteiro. A premissa é meio tresloucada, mas é passável para fins de comédia romântica. Mas o desenvolvimento é besta, o que leva a situações toscas, como a passageira que tem acesso a todo o sistema de vídeo do navio – a mesma que gravou o vídeo filmando a tela do computador – ou o duelo de canto na noite de talentos, que é mais vergonhoso do que engraçado. E não do jeito que a produção planejou.

Esse, no fim, é um problema recorrente. Os escritores para cinema brasileiros parecem não compreender como uma piada funciona estruturalmente. Consequentemente, não compreendem como fazer uma piada que é vacilante no papel se transportar com segurança para o audiovisual. O resultado é que audiência ri porque está condicionada a rir no final das cenas. Mas, salvo raras exceções (e elas estão todas no trailer), não é engraçado.

O que sobra é o charme e empatia que Giovanna e Gianecchini conseguem produzir quando estão em cena mesmo que estivessem dormindo. Abaixo dois degraus, as acompanhantes, Fabiula e Thalita, e suas desventuras para, basicamente, encontrar um homem, ainda trazem algum alívio cômico. Mas não maior do que o que você tem quando o filme acaba, finalmente.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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