Julia Roberts tenta, mas não salva “Espelho, Espelho Meu”

Julia Roberts tenta, mas não salva “Espelho, Espelho Meu”

A perspectiva de se ter uma estreia nacional com apenas cópias dubladas não é muito animadora. Sinal de que os distribuidores estão considerando o filme infantilizado, o que é diferente de infantil, como a Pixar e a Dreamworks provaram tantas e tantas vezes com suas belas animações. E, se isso é uma promessa, “Espelho, Espelho Meu” cumpre as expectativas, entregando um roteiro digno de “A Turma do Didi”, com atuações idem.

A ideia aqui é apresentar uma nova versão para a clássica fábula de “Branca de Neve”. O começo é promissor, mesmo com a estranha dublagem brasileira (muitas vozes bonitinhas e sussurradas), quando vemos em uma bela animação todo o contexto, com o Rei viúvo, se apaixonando novamente, e sendo morto, abandonando Branca de Neve (Lily Collins) e o Reino aos desmandos da Rainha (Julia Roberts). Mas tudo pode mudar com a chegada do Príncipe Alcott (Armmie Hammer).

Claro, nem tudo é um desperdício completo de tempo. Como todo filme do diretor Tarsem Singh, como o recente “Imortais” e o antigo “A Cela”, o visual é impressionante. As roupas e cenários, e a integração ente os dois, chega a causar um certo deslumbre. Mas, ao final da sessão, a sensação é o de ser uma criança que abriu o pacote mais bonito, só para encontrar um par de meias lá dentro.

Hammer e Collins ainda precisam trabalhar um bocado para chegarem ao ponto de carregar um filme nas costas. Ele, careteiro como se fosse um filme mudo, num esforço ímpar para parecer charmoso, mas só chegando a ser simpático. Ela, além de uma escolha difícil de engolir para ser “a mais bela do Reino”, quem dirá mais bela do que Roberts, se limita a fazer um olhar languido para o horizonte como se fosse técnica de atuação.

Roberts acaba sendo a grande estrela do longa, trabalhando com o que pode, já que não há explicação alguma para os ‘poderes’ dela, ou sua origem, ou suas motivações, que hora são financeiras, hora é a busca pela beleza. Ela ainda se salva por pouco, mas gente como Nathan Lane, no papel do capataz da Rainha, acaba se limitando a fazer cara de coitado e choramingar todas as falas.

Por que, no fundo, o problema todo é o material. Ao tentar inovar e surpreender a plateia que já conhece a história de “Branca de Neve” de cor e salteado, consegue entregar uma história confusa. O exemplo mais claro é o de Branca de Neve aprendendo a lutar e roubar com maestria em um espaço de, se tanto, umas duas horas. Só ver que ela começa a treinar com os caricatos sete anões no tempo do Príncipe terminar uma refeição, juntar uma meia dúzia de soldados e chegar à floresta. Uma vez lá, ela já é capaz de lutar de igual para igual com ele.

Singh ainda imprime marcas desnecessárias, como terminar o filme com uma dança indiana (ele é natural da Índia), referenciando o cinema natal. A brincadeira é, se tanto, um fetiche egocêntrico, que em nada dialoga com a história de “Branca de Neve”, só mostrando o quanto o diretor é orgulhoso se suas raízes.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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