“Imortais” não passa de um épico grego genérico

“Imortais” não passa de um épico grego genérico

É bem possível que se não fosse o fato de Henry Cavill ter se tornado o novo Superman, “Imortais” não ganharia distribuição internacional. O nome do ator é inflado, dando uma força nas bilheterias, e, ao mesmo tempo, a Warner, produtora do Super, consegue que o nome de Cavill seja ligado a filmes de ação.

Tudo daria muito certo, caso “Imortais” não passasse de uma versão genérica de todo épico que vimos nos cinemas nos últimos anos.

No filme, acompanhamos Theseus (Cavill), um homem comum que só quer proteger sua mãe e demais entes queridos. É um guerreiro valente, mas que não encontra grandes motivações para a batalha. Ao mesmo tempo, o Rei Hyperion (Mickey Rourke) segue em sua busca por um arco sagrado, que poderá libertar os Titãs, únicos entes que poderiam se colocar em frente aos deuses do Olimpo.

Hyperion, em uma batalha, mata friamente a mãe de Theseus, que logo parte em vingança, guiado pela vidente Phaedra (Freida Pinto) e escoltado pelo ladrão Stavros (Stephen Dorff). Theseus, meio que sem querer, acaba se tornando a única coisa entre Hyperion e seus objetivos. Especialmente porque o jovem guerreiro é assistido pelos deuses do Olimpo, encabeçados por Zeus (Luke Evans).

Qualquer um que tenha um conhecimento mínimo de mitologia grega se sente estranho ao longo do filme. Deuses benevolentes e preocupados com a raça humana não formam uma imagem muito próxima dos registros. Os deuses, ao contrário, sempre aparecem retratados como egoístas e cheios dos maus hábitos humanos. Por isso, a forma como Zeus aparece, sempre mais interessado no bem da humanidade que com outros deuses acaba gerando um belo incômodo.

Mas isso não seria um problema se o filme tivesse um roteiro mais bem resolvido. Não são poucas as mudanças de inclinação dos personagens para fazer o roteiro andar. O mais óbvio é Stavros, que decide acompanhar Theseus, ao que tudo indica, pelo simples desejo de dizer uma frase-feita: “melhor lutar ao lado de um louco que confrontá-lo”.

É difícil não evocar “300” ao longo da produção, tanto pelas barrigas de tanquinho, quanto pela paleta monocromática (se “300” era basicamente vermelho, “Imortais” é amarelo). Mas também porque o material de divulgação insiste em nos lembrar que são os mesmos produtores que fizeram ambos, ainda que as batalhas, nas mãos de Zack Snyder, diretor de “300”, sejam bem mais plásticas e estilosas.

Mas se o estilo vem de “300”, “Imortais” pega uma série de elementos de “Fúria de Titãs” (ambas as versões) e “O Senhor dos Anéis”, mais notadamente “As Duas Torres”. A oposição deuses versus titãs, por exemplo, é herança direta dos “Fúria de Titãs”, bem como o herói hesitante e a resolução god ex machina (‘Deus Trazido Pela Máquina’, solução divina para conflitos humanos. É um recurso de roteiro do teatro grego). Já a batalha final, tendo um refúgio murado como cenário, é herança direta da batalha no abismo de Helm, de “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”. Só que muito melhor executada antes.

Por fim, Tarsem Singh repete seu fetiche por figurinos exóticos, marcas de seus filmes anteriores, “A Cela” e “Dublê de Anjo”, beirando o carnavalesco. A diferença é que, aqui, como a maioria dos personagens, está seminu grande parte do tempo, o apuro visual é desviado para os capacetes, chapéus e adornos de cabeça em geral.

A impressão da marca registrada de Singh mais atrapalha que ajuda, mas o filme já estava meio perdido a essa altura.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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