O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

Acabou. Finalmente. A primeira história que J.R.R. Tolkien escreveu ambientada na Terra Média foi enrolada e esticada ao cúmulo, mas chegou ao seu fim com O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos. O resultado é um filme curioso. Climático demais, ante a necessidade de fechar todas as narrativas dos outros dois (Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug), este terceiro O Hobbit, ao mesmo tempo em que é o mais recheado de cenas de ação, também consegue ser o mais melodramático (no mau sentido) e o mais curto, o que é ótimo.

A ação vertiginosa começa logo de cara, de onde A Desolação de Smaug terminou, com o dragão enfurecido partindo em direção à Cidade do Lago. Resolvido esse problema, surge outro. Sem Smaug, Erebor, a Montanha Solitária, fica desprotegida. O que gera uma disputa tanto por seus tesouros, quanto por sua posição estratégica, levando à tal batalha dos cinco exércitos: homens, elfos, anões, orcs e, mais no final, águias.

Até o confronto de fato, o que acompanhamos é o ápice do arco de Thorin (Richard Armitage), inciado em A Desolação de Smaug. Ele fica obsecado com o tesouro da Montanha e se recusa a abrir mão da menor parte dele para os homens e para os elfos, gerando uma tensão que só irá encontrar vasão na batalha em si. É o momento também que Peter Jackson resolveu ser mais explícito em relação à lição cristã de Tolkien em todos os seis filmes.

Todos os longas (e, no limite, os livros) tratam de cobiça e ambição, com o anel como símbolo máximo nesse sentido. Poder e riquezas, parece pregar Tolkien, não vêm sem responsabilidade para com os menos afortunados. Daí a jornada de Frodo (Elijah Wood), cuja inocência o ajuda a carregar o fardo, e de Aragorn (Viggo Mortensen), que não se sente apto a se tornar Rei, em O Senhor dos Anéis. Arcos mais sutis e interessantes do que o de O Hobbit, inclusive.

O arco dramático de Thorin surge mais da necessidade narrativa de parear A Batalha dos Cinco Exércitos com os outros dois filmes. A intensão é a de ter uma cena demonstrando o misto de esperteza e inocência de Bilbo (Martin Freeman) pelos de diálogos. Se em Uma Jornada Inesperada tivemos as Advinhas no Escuro com Gollum (Andy Serkis) e em A Desolação de Smaug a conversa intrincada com o dragão (Benedict Cumberbatch), a ideia aqui é confrontar o pequeno Hobbit com o mais novo anão Rei sob a Montanha.

E não funciona muito porque Armitage não tem o mesmo talento de Cumberbatch ou Serkis. Mas também porque Peter Jackson não é Tolkien. E quando o diretor precisa criar sobre o que não há claramente nos livros sobra um drama forçado no qual deveria haver a matéria do que as fábulas são feitas – aquela saborosa mistura entre o horror e o encantamento que o autor soube medir tão bem quando escreveu O Hobbit.

Esse é um problema em nível existencial que poderia ser facilmente perdoável se o filme fosse ao menos divertido. E é, em diversos momentos. Mais notadamente na defesa da Cidade do Lago de Smaug e no confronto que dá nome ao filme, que é seguido do confronto final entre Azog, o líder dos Orcs Brancos, e Thorin. Há ainda o resgate de Gandalf (Ian McKellen) das guarras do Necromante (também Cumberbatch), que resulta em uma batalha de magia que quase compensa a falta dela em O Senhor dos Anéis. Mas isso não é suficiente para resolver o problema central que está no coração de A Batalha dos Cinco Exércitos, que nasce na divisão entre três filmes, para começo de conversa.

Ainda que narrativamente nenhum dos três se sustente enquanto filme, com início meio e fim, é A Batalha dos Cinco Exércitos que mais sofre com isso. Justamente por já começar com um grande clímax, que é a derrocada de Smaug, e se permitir esfriar por quase uma hora até voltar a ganhar fôlego na batalha. O ritmo é comprometido além do desculpável. Uma pena terminar dessa forma (por enquanto) a série de adaptações dos escritos de Tolkien na Terra-Média. Fica o consolo de poder ver a Trilogia do Anel. Ainda infinitamente superior.

Sobre o autor Veja todos os posts

Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

3 de comentáriosDeixe um comentário

    • Apoiado. O visual dele foi incrível. Foi tão fiel quanto pôde ser e ainda nos deu de presente algumas cenas que só foram mencionadas, tipo a batalha dos senhores de pedra.

  • Achei crítica por vontade de criticar. Eu também senti que os filmes foram esticados demais, mas achei maravilhoso o que Peter fez. Ele respeitou a obra de Tolkien. Nenhum outro diretor conseguiria ser tão fiel e tão comerciável ao mesmo tempo. As modificações – para mim – foram boas. Claro que nem todo filme é perfeito, mas para mim o 3 foi o tão satisfatório quanto os outros. Eu adorei o final e fiquei emocionada.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *