Game of Thrones – S07E04 – The Spoils of War

Game of Thrones – S07E04 – The Spoils of War

Texto recheado de spoilers. Leia por sua conta e risco.

As últimas temporadas de Game of Thrones têm seguido um padrão mais ou menos constante. Depois de alguns episódios carregados de diálogos geralmente expositivos, com algum eventual desenvolvimento de personagem e cujo clímax envolve assassinatos motivados por conluio político, somos finalmente recompensados com um capítulo realmente interessante. Nos dois últimos anos a recompensa veio em Hardhome e Battle of the Bastards. The Spoils of War é o responsável por ampliar o interesse desta sétima temporada.

O que chama atenção são os 15 minutos finais, com a desde já icônica batalha entre o exército Lannister e os Dothraki auxiliados por Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) e Drogon, o maior e mais poderoso de seus três dragões. Toda a sequência é um feito estético-narrativo onde temos total consciência de tudo o que está acontecendo ao mesmo tempo em que o escopo da batalha se manifesta claramente. A câmera mostra o terror dos soldados no solo e a grandiosa ameaça do réptil alado com um simples mudar de enquadramento, sem que as ações dos atores principais sejam perdidas em momento algum.

O ritmo também impressiona e não necessariamente pela aceleração típica da linguagem videoclíptica. O tempo dado na edição para que os soldados Lannisters se dêem conta da chegada iminente do exército Dothraki, usando apenas o desenho de som, é um toque delicado e brilhante. Ou, mais adiante, quando o ataque desesperado de Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) em direção à Daenerys é entrecortada pelas imagens de um preocupado Tyrion Lannister (Peter Dinklage), acrescentando ainda mais drama e suspense a um momento já carregado destes elementos.

Essa pausa para vermos como os personagens reagem, em oposição a simplesmente empilhar informações a cada nova cena, é rara, mas em The Spoils of War é usada de forma consistente em algumas das melhores sequências. O reencontro entre Sansa e Arya Stark (Sophie Turner e Maisie Williams) é exemplo disso. O espaço de tempo serve tanto para elas quanto para que o público se dê conta de como mudaram, deixando claro como é uma situação ao mesmo tempo familiar e estranha.

Nenhum diálogo faz melhor uso da edição, porém, do que o entre Bran Stark e Lord Petyr Baelish (Isaac Hempstead-Wright e Aidan Gillen). O campo e contracampo vão se aproximando enquanto Mindinho entrega a adaga para o Corvo de Três Olhos e lhe conta sobre como o objeto cumpriu um papel central no plano de assassinato do jovem Stark, levando à desastrosa Batalha dos Cinco Reis ainda nas primeiras temporadas. É quando Bran lhe diz, em um close da câmera direto em seu rosto, “caos é uma escada”. O corte seguinte mostra apenas Lord Baelish atônito por alguns segundos, também em um super-close do seu rosto.

O rosto de Lord Baelish está assim paralisado por ser este o momento em que ele se dá conta da extensão dos poderes de Bran. “Caos é uma escada” é a frase que o próprio Mindinho disse para Varys (Conleth Hill) muitas temporadas atrás (se não se lembra, não se preocupe: eu também tive que pesquisar). Por isso o close em seu rosto é tão marcante. Ele se dá conta que não será tão simples assim manipular o jovem Corvo de Três Olhos. O mesmo acontece, inclusive, com Arya, depois dele testemunhar suas habilidades de luta na boa sequência de sparring dela com Brienne de Tarth (Gwendoline Christie).

Estes momentos também ajudam a dar a real dimensão de como mudaram as crianças Stark. Sansa se tornou uma hábil política, tendo testemunhado as maquinações de Cersei Lannister (Lena Headey), Tyrion, Olenna Tyrell (Diana Rigg) e, claro, Lord Baelish em primeira mão. Arya é uma assassina bastante eficiente depois de aprender suas técnicas com “Ninguém”. E, claro, Bran agora é o Corvo de Três Olhos, capaz de enxergar o passado, presente e futuro em total onisciência – o custo foi sua humanidade, como fica claro nos seus diálogos nos dois últimos episódios; ele não se dá conta da crueldade que é elogiar Sansa pelo casamento, dos piores dias de sua vida.

The Spoils of War também marca um possível ponto de virada na guerra entre Cersei e Daenerys. A batalha é a presentificação disso, mas boa parte do episódio é dedicado a marcar a diferença central entre as duas Rainhas ao mesmo tempo em que sublinha as semelhanças entre a Mãe dos Dragões e Jon Snow (Kit Harrington). A aproximação, inclusive, começa quando Missandei (Nathalie Emmanuel) descreve sua relação com sua Rainha de forma bem parecida como Ser Davos Seaworth (Liam Cunningham) descreveu seu Rei do Norte em The Queen’s Justice e se consolida tanto na imagem dos dois deixando a caverna juntos – com a fotografia reforçando as noções de Gelo e Fogo – e no momento em que Daenerys pede um conselho a Jon Snow.

Quando Daenerys assume um lugar de protagonismo na batalha, como o próprio Jon Snow fez em The Battle of the Bastards, a oposição com Cersei, sempre nos bastidores, sempre protegida na Fortaleza Vermelha, se solidifica. Daí o cuidado que Game of Thrones tem em, nesta temporada, mostrar como a vitória da Mãe dos Dragões precisa ser diferente, precisa ser pensando no bem estar do povo. Por isso é tão importante deixar claro, em duas ocasiões, como os Lannisters não hesitam em conseguir resultados usando açoites. O povo, para eles, é mero instrumento.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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