Se “O Hobbit – Uma Jornada Inesperada” é um grande preâmbulo, com todo o tempo do mundo para apresentar os personagens e estabelecer a trama, “A Desolação de Smaug” é um caminho direto e vertiginoso para o clímax – e isso também quer dizer que o filme vai acabar no momento exato em que esse clímax estiver para começar. É aqui, também, que as ligações com “O Senhor dos Anéis” vão se aprofundando mais, tanto na temática mais sombria, quanto nas liberdades que Peter Jackson toma para ligar as duas histórias, transformando “O Hobbit” em uma trama sensivelmente mais soturna do que J.R.R. Tolkien havia previsto originalmente.
“A Desolação de Smaug” começa do exato ponto onde “Uma Jornada Inesperada” terminou. Isso significa que a comitiva dos Anões está perto da Montanha Solitária, mas ainda com os Orcs, liderados por Azog, o Profano, nos seus calcanhares. A única alternativa que eles possuem é atravessar a Floresta das Trevas em direção a Cidade do Lago, já próximos de Erebor, a Montanha Solitária. Aranhas, elfos, homens e os já citados Orcs são os obstáculos no caminho deles, que não contarão com a ajuda de Galdalf, que precisa dar mais atenção para a uma ameaça maléfica que está tomando a Terra-Média.
O tom mais sombrio das temáticas e paleta de cores substitui o clima solar do primeiro. E se não há espaço para o humor, sobra para aventura. E aqui, mesmo em fuga, os anões mostram a que vieram, especialmente na sequência do rio, em que são auxiliados por ninguém menos que Légolas – sua não deixa de ser um artifício para ligar as duas trilogias. E, claro, ele não está sozinho, ganhando a companhia de Tauriel, personagem criada especialmente para o filme, o que ajuda a deixar o universo menos masculino.
A ação ganha ares de tensão na Cidade do Lago, em que somos apresentados aos temas políticos humanos. A verve revolucionária de Bard versus o controle mão-de-ferro do Mestre – um viva para Stephen Fry. A Cidade vive nas cinzas do ataque do Dragão e permanece sitiada, já que a maior fonte de riquezas era Erebor, quando habitada por Anões. Mas, é claro, isso só vai se desenrolar completamente no terceiro filme.
No fundo, tudo isso, por mais divertido que seja, é um grande preâmbulo para o momento que estamos esperando desde o começo do primeiro filme: o encontro entre Bilbo e o Dragão, Smaug. E se você se divertiu com os adivinhas no escuro, que é a sequência em que vemos o pequeno Hobbit e Smeagol travando uma batalha de diálogos – também o ponto alto da atuação de Martin Freeman, além de nos fazer matar a saudade de Andy Serkis -, vai se surpreender com o dragão interpretado por Benedict Cumberbatch.
Smaug é a quintessência dos dragões ocidentais. É mais do que um amontoado reptílico de escamas, garras, dentes e fogo, coroado com o ventre dourado pelos anos em que dorme no tesouro tomado dos Anões. É ameaça, poder e sabedoria maléfica em forma de dragão. Mas mais do que o design, preocupado em como seria um dragão já velho, mas ainda bastante poderoso, é a atuação de Cumberbatch que dá vida a Smaug. É no tom de voz e na maneira como ele se movimenta que fica claro como ele é ameaçador de verdade. E, em duas falas finais, vemos como ele sabe perfeitamente o que ele é.
“O Hobbit – A Desolação de Smaug” é o meio de algo. Não há apresentação de personagens e nem desfecho. Daí que deve ser o filme mais frustrante, no sentido narrativo, de todos os baseados na obra de Tolkien. O que não chega a ser um problema real para os fãs que, no máximo, vão ter que aguentar pessoas que não entendem bem da obra, reclamar (novamente) que o filme não tem começo nem fim. Pobres.
E que venha o final de 2014, com a conclusão dessa história.
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Texto publicado originalmente no Portal POP.
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